É preciso salvar o jardim do Paraíso
Aparece na lista de crimes ecológicos de Saddam Hussein e é tido como um dos grandes atentados ambientais de sempre, mas para Umm Ali, Abu Ali e Abu Mohammed o que o antigo ditador fez foi tentar matá-los. Arrancou-os pela raiz e fez deles estrangeiros. Porque os madan não são iraquianos. São árabes dos pântanos.
Muitos pescadores tiveram de sair, poucos puderam ficar.
Sai-se de Bassorá para norte, pela estrada que cruzará Nasiriyah e Amara antes de chegar a Bagdad. Atravessa-se os subúrbios extensos da segunda maior cidade do país, pobreza a perder de vista, e depois ainda Kezayzeh, no fim da estrada, um bairro com um parque infantil sem brinquedos, só terra e umas escadas que terminam no ar.
Deixa-se a estrada para Bagdad e é logo depois que o cenário muda e passa a fazer-se de palha, de terra seca deste Verão ou já do ano passado e o chão a abrir-se como a querer sugar o ar. A seguir há pedaços de água e a terra a ficar castanha e a palha que de repente é erva muito, muito verde. Canais naturais, com pequenos barcos de madeira, os mashhof, que os cruzam conduzidos por um homem com o seu remo que é um tronco. Os mashhof encontram o caminho por entre a erva alta e espessa. Palmeiras e depois já não. Quando há água, ouvem-se sapos e vêem-se búfalos e miúdos a pescar e a entrelaçar palha e outros só a tomar banho. Também há peixe, mas é pouco e é pequeno.
Estamos em Qorna, início de pântanos que há 20 anos eram sem fim. Uma das zonas húmidas com um dos ecossistemas mais ricos do planeta. Peixes, plantas, aves, insectos. Pessoas como não há iguais. Os árabes dos pântanos.
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