Concursos públicos combinados, subornos ou o velho e simples cambão fazem parte de todas as histórias do mundo da construção. Enredos mais ou menos conspirativos são uma constante em todas as grandes obras: como A negociou com B ou C o resultado do concurso, propostas e preços definidos ao cêntimo para que desde o início decidissem quem ganhava a obra pública. A verdade ou mentira destas histórias tem sempre o mesmo final, quem paga é o contribuinte, pois o Estado acaba por adjudicar obra pública por um preço muito superior ao justo.
A terceira travessia do Tejo é o exemplo típico de como o contribuinte pode acabar por ser enganado sem dar por isso.
Os factos são estes:
Dois consórcios tinham anunciado que iriam concorrer à ponte, um liderado pela empresa A e outro pela empresa B. À última hora apareceu uma proposta-surpresa liderada por uma empresa espanhola C. Surpresa maior, a proposta é qualquer coisa como 400 milhões mais barata do que a da A (esta última já ligeiramente mais barata do que a B).
Do consórcio liderado pela B pouco se ouviu falar neste concurso (já tinham ganhado a construção e gestão do troço entre Poceirão e Caia do TGV, num concurso em que a Mota também concorreu e perdeu). Já o consórcio da A lançou um enorme ataque à proposta da C, com argumentos que chegaram ao extremo de dizer que se a ponte fosse construída pelos espanhóis iria cair.
O resultado foi óbvio, o júri do concurso no seu relatório inicial atribuiu à proposta da C uma pontuação muito superior, tudo levando a crer que estes sairão vencedores.
Agora, a A já coloca em cima da mesa a possibilidade de se construir não a terceira travessia rodoferroviária mas apenas a ferroviária, ou voltarmos à hipótese do túnel entre Algés e Trafaria, o que implicaria a anulação deste concurso e a realização de um novo.
Moral da história, se não fosse a proposta-surpresa da C, hoje o Governo estaria a adjudicar uma proposta 400 milhões mais cara para a construção da terceira ponte sobre o rio Tejo. E o contribuinte a pagar!
Claro que temos de esperar pelo custo final de construção da ponte, pois sabemos que existem sempre uns previsíveis 'imprevistos' nas obras que levam a derrapagens milionárias.
E sobre o facto de se estar a atribuir obras a empresas espanholas... bem, eu também prefiro as empresas portuguesas, desde que isso não me custe a mim, a si e aos nossos filhos mais 400 milhões de euros.
Texto publicado na edição do Expresso de 10 de Abril de 2010
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/eu-nao-acredito-em-camboes-mas-que-os-ha=f576512#ixzz2kSTB68iq
. O CONCEITO DE SERVIÇO PÚB...
. ENDIVIDAMENTO PÚBLICO E P...
. A SACRALIDADE DA PESSOA H...
. 200 000
. A VERDADE PODE SER DOLORO...
. IMAGINEM
. PORTUGAL, UM PAÍS DO ABSU...
. CIVILIZAÇÃO Pré-histórica...
. UMA SOCIEDADE SEM "EXTRAV...
. O POVOADO PRÉ-HISTÓRICO D...
. AS INTRIGAS NO BURGO (Vil...
. MANHOSICES COM POLVO, POT...
. NOTA PRÉVIA DE UM LIVRO Q...