Sejamos gregos
Inserido em 05-05-2010 08:49
Dois mil milhões de euros são muito dinheiro. É mais do que o Governo planeia reduzir o défice este ano. É um terço das receitas de privatizações que se espera receber, nos próximos três anos, ao privatizar as 17 empresas da lista apresentada ao Parlamento.
É tanto que vai fazer subir a nossa dívida pública dos actuais 77% do Produto para uns ainda piores 78,5%. Uma subida de um ponto e meio, num galope terrível que é urgente travar.
Pior do que isso: são dois mil milhões para emprestar à Grécia, quando nós não os temos para os emprestar. Dito assim, parece ainda mais.
Dois mil milhões que vamos ter de ir buscar aos mercados pagando, por eles, juros de 5,5 ou 6% (ou até mais…).
Contas feitas, vamos pagar mais pelo empréstimo à Grécia do que os 5% que os próprios gregos vão pagar por ele. Teremos prejuízo.
E este negócio faz sentido? Para evitar que a Grécia caia na bancarrota quando, nós próprios, estamos a fugir dela como o diabo da cruz?
Faz. Neste momento, pior do que a desgraça própria é mesmo a desgraça alheia. Tal como todos, os outros somos chamados a salvar a credibilidade da nossa moeda, a solidez da Zona Euro, a nossa própria economia.
Custa-nos o desgoverno grego? Apetece-nos pedir aos gregos que deixem a contestação nas ruas e passem depressa a trabalhar duro para ver se rapidamente nos pagam?
O empréstimo à Grécia não é mais do que um empréstimo a Portugal! Percebem agora a fúria dos alemães a chorar os tempos em que o seu marco não era afectado pelo desgoverno dos outros? Hoje seremos gregos esperando que, amanhã, os espanhóis saibam ser portugueses.
Graça Franco