Olhando atentamente no mapa, a verdade é que a dicotomia zona de conflito/petróleo repete-se muitas vezes. Com a excepção Mar do Norte – onde o petróleo é explorado pelo Reino Unido e pela Noruega e dos Estados Unidos, a maioria das reservas está localizada em áreas instáveis ou potencialmente complicadas. Já que neste caso os problemas não se limitam somente ao Médio Oriente.
Mais ao a norte, no Mar Cáspio, numa extensão de território dividido entre a Rússia e algumas repúblicas da ex – URSS, fica uma das reservas mais importantes do Mundo. Nas previsões de muitos analistas, por volta de 2010, sairão dali muitos milhões de barris de petróleo por dia.
No entanto as expectativas na extracção de crude, são tão grandes como o risco de conflito político e militar.
Áreas de influência muçulmana no seu passado, estas antigas repúblicas soviéticas ( Azerbaijão, Turkmenistão, Uzbekistão ) são permeáveis ao fundamentalismo islâmico, sendo, por isso, provável que usem o petróleo como arma para pressionar o Ocidente.
Nesta altura já assistimos naquela zona, ao conflito entre a Tchetchénia e a Rússia, só aparentemente gerado por um referendo. Luta-se em nome de um nacionalismo, mas também por questões de estratégia económica . O território Tchetcheno é fundamental para a passagem dos oleodutos, que trazem o petróleo do Mar Cáspio.
Ainda em zonas de influência islâmica mas no Norte de África, não do Médio Oriente, existe outro dos grandes produtores de petróleo e gás natural do mundo : a Argélia. Vive-se aqui uma instabilidade acentuada desde que, em 1992, as eleições legislativas ganhas pelos fundamentalistas islâmicos, foram anuladas.
Devido à recusa de aceitar o poder nas mãos do partido islâmico, em pouco tempo, aquela que era a mais próspera das nações do Norte de África passou a ser um país em guerra constante.
Bastante vulnerável aos atentados do GIA ( grupo integrista islâmico ), a Argélia é, neste momento, uma ameaça para todo o Mediterrâneo e um enorme problema de difícil solução. A estabilidade política na Argélia é importantíssima para toda a União Europeia, na medida em que vem daí o gás natural, a principal alternativa de que dispõe relativamente ao consumo de petróleo.
Se a norte a instabilidade é muita, no centro e no sul do continente africano a situação não é mais optimista. Entre conflitos étnicos e guerras de poder, ficam duas importantes reservas de petróleo : Angola e a Nigéria.
Em Angola, a guerra de independência durou quase 30 anos e decerto irá ter continuidade no enclave de Cabinda, região muito rica em crude.
A morte de Jonas Savimbi, acalmou os conflitos, mas a paz em África apresenta, de forma constante, grande incerteza.
A Nigéria, situada entre os 13 maiores exploradores, é conhecida pelos conflitos étnicos e religiosos.
Na zona do delta do Niger, onde se faz a extracção de petróleo, as empresas americanas anunciaram a suspensão das operações de extracção dada a insegurança na área.
Segundo a Human Rigths Watch, o petróleo é a principal razão para inúmeros atentados aos direitos humanos naquela zona. A organização referência execuções sumárias sem culpa formada e perseguições.
Ainda em África, a grande aposta parece ser a extracção no mar entre São Tomé e Príncipe e a Nigéria. Tal como, a Oriente, as grandes esperanças estão nos milhões de barris de petróleo que irão sair do mar de Timor Leste, país que, até 1999, viveu a ocupação Indonésia com a complacência da Austrália. Naturalmente por causa do petróleo.
No continente americano, além dos Estados Unidos e do Canadá ( em menor escala), a grande produção faz-se entre o México e a Venezuela, num eixo que inclui algumas das ilhas das Caraíbas, como Trinidad e Tobago. Também por estas paragens, como noutras partes do mundo onde o petróleo abunda, a instabilidade política, a grande diferença de classes e a corrupção marcam o dia – a – dia dos países e das populações.
Terá ainda sido por causa do petróleo que os venezuelanos saíram à rua em Caracas, para pedir a Chávez que deixasse o poder.
A empresa Petróleos da Venezuela foi a origem da greve de dois meses que parou o país.
Apesar deste cenário de incerteza política nos países onde estão situadas as reservas de petróleo, a verdade é que as necessidades deste produto por parte dos países mais industrializados, vão continuar a crescer nos próximos 20 anos, sobretudo nos Estados Unidos.
O Ocidente apresenta claramente grande fragilidade neste domínio. Estima-se que o consumo dos Estados Unidos seja em 2020 superior em mais de 10,3 milhões de barris àquele que teve em 1999, consideram-se também que a sua produção ( das maiores do mundo) se irá manter.
O que indica que a maior economia do Mundo – que é também o maior consumidor de petróleo (19,9 milhões de barris por dia) - continuará dependente do exterior e das tensões nas áreas de extracção, importando mais de metade do petróleo que consome.
As estimativas para 2020 mostram, no entanto, que o crescimento da procura irá aumentar por todo o Mundo. Seja em África, na América Latina, na Ásia, na Europa de Leste e na Europa Ocidental . Embora, no que respeita à União Europeia, o crescimento previsto seja menor.
Tão industrializada como os Estados Unidos, a redução na procura europeia pretende-se alcançar com a aposta no gás natural e no gasoduto do Norte de África.
O petróleo ficará essencialmente para o sector dos transportes.
A certeza é que a pressão sobre o consumo do petróleo irá aumentar nos próximos anos, mantendo-se como principal fonte de energia dos países industrializados. Abril de 2002