“O conceito de educação no mundo helénico esteve sujeito a um constante aperfeiçoamento. A “ paideia “ surge primeiro, numa fase elementar, entendida apenas como criação de meninos ( alimentação, cuidados de saúde ), só depois vindo a ser associada a “ aretê “ ( virtude, bravura, coragem, honra ), aglutinando por fim o atributo de “ Kalos Kai agathós “ ( belo e bom ) . Mais do que a coragem e a honra, pretendia-se com esta designação sublinhar os predicados da excelência física e moral. Para alcançar este ideal, tornava-se indispensável, na “ paideia “, o domínio de duas matérias : a ginástica e a música. A ginástica, para o corpo ; a música, para a alma. A música implicava todo o vasto domínio das musas, compreendendo a poesia, a história, a oratória, o drama e a ciência. Para lá da execução musical, impunha-se o conhecimento da língua, porque para cantar os poetas era preciso ler as suas obras. Daí que a compreensão dos poemas mais famosos fizesse parte integrante da “ paideia “. A este propósito, diz-nos Pitágoras: “ Creio eu, Sócrates, que para um homem a parte mais importante da educação ( paideia ) consiste em ser perito em matéria de poesia, e essa perícia significa poder entender e saber distingir, na obra dos poetas, o que está feito de modo correcto e o que não está e justificar-se perante qualquer dúvida. Perante o objectivo fundamental da educação, o mesmo Platão sublinha no ideal educativo uma componente cívica, para nós indissociável do ideal educativo da Grécia clássica. Para além de formar o homem em consonância com os critérios do belo “ Kalós ” e do bom “ agathós “, a educação deveria formá-lo também como cidadão. Diz-nos ele que a essência de toda a verdadeira educação ou « paideia » é a que dá ao homem, logo desde os tempos infância, o desejo e a ânsia, de ele se tornar um cidadão íntegro e a que o ensina a mandar e a obedecer, tendo sempre a justiça como fundamento. E conclui que a « paideia » é “aquele embrião gerador dos maiores bens, aí se formando todos aqueles que justamente são os melhores homens”. É precisamente no âmbito desta demanda global de um conceito de educação orientado para a justiça, a democracia, o amor, a sabedoria, a tolerância, e para os demais valores – ideal que Sebastião da Gama sempre procurou incutir nos seus alunos – que se pode fazer do homem um ser genuíno, leal, verdadeiro, empenhado e solidário. À essência desta matriz helénica, Sebastião da Gama, homem de sempre mas também do seu tempo, apenas terá acrescentado um certo « modus operandi » da pedagogia da Escola Nova, por um lado e, por o outro, uma rara intuição e uma sensibilidade excepcional, logrando a arte suprema do educador de que, para alguns, continua ainda hoje como um paradigma de excelência. “-
Do livro “ Sebastião da Gama –
Milagre de Vida em busca do Eterno
- Alexandre F. Santos