17:37 (JPP)
COISAS DA SÁBADO: CORNUCÓPIA DA ABUNDÂNCIADe repente, após anos de vacas magras, parece que uma cornucópia celeste derrama milhões sobre alguns. É a “crise”? É a “crise”, mas não é só a crise, é o ano eleitoral, são as eleições. Os milhões que amparam a banca, a indústria automóvel, as pequenas e médias empresas, o imenso programa de investimento público em “betão”, e benesses vastas e variadas, têm uma função no contexto da “crise”, mas servem os objectivos eleitorais do PS a curto prazo. Mas não só: servem também um projecto de controlo estatal da economia privada, que ameaça diminuir os poucos espaços de autonomia da sociedade civil que ainda sobrevivem. Este último aspecto é muito preocupante e disfarça-se por detrás de uma retórica entre o marxista e o keynesiano, que é instrumental apenas para objectivos políticos precisos: dar ao governo mais controle sobre a sociedade, reforçar o poder político de José Sócrates.
O Primeiro-ministro deve estar satisfeito porque todos lhe vão, como os passarinhos, comer à mão. Quem é o banqueiro que vai desperdiçar os avales do estado, mesmo que não precise deles? Quem protesta contra “nacionalizações”, que parecem rodeadas de todas as melhores intenções do mundo e ainda por cima “justificadas” pelas fraudes da ganância? Quem quer ficar de fora de linhas de crédito tão generosas, mesmo que seja para aumentar o endividamento? Quem não quer investimento público que canalize dinheiro para a galáxia da construção civil, mesmo que seja para construir inutilidades ou obras pouco prioritárias? Que grupo económico ou empresário vai nestes tempos dizer ao Primeiro-ministro “não obrigada”, o país precisa de outra política? O resultado é que tudo lá está na
entourage das sessões de propaganda do Primeiro-ministro, quando ele promete mais uns milhões, ou inaugura uma maquete de hospital.
O pobre devia desconfiar da grande esmola, mas o pobre tem os olhos e os ouvidos cheios de “crise” e de ameaças. Sabe melhor do que ninguém que o seu emprego está em risco, sabe que deve mais do que devia, sabe que as dificuldades aumentam dia a dia. Na rádio e na televisão a regra é uma comunicação social complacente com o governo quando não abertamente propagandística, temperada por muito futebol, concursos e
reality shows. E o pobre acaba também por achar que mesmo que deva desconfiar da largueza da esmola, vale mais pouco do que nada, e no fundo, com a “crise” não há nada a fazer.
A factura virá depois, depois de 2009, para os pobres e para os empresários que povoam os gabinetes ministeriais. Os primeiros ficarão mais pobres, os segundos, se pensam ter veleidades de independência com um eventual governo PS, tirem daí os pensamentos.