Amigos há mais de 40 anos, Jorge Coelho e Dias Loureiro são praticamente da mesma terra. Tratam-se como irmãos. «Éramos uns brincalhões. Jogávamos futebol e comíamos pastéis de feijão numa casa, junto da escola», contou Coelho ao Jornal de Negócios, já este ano. «Passados 22 anos, reencontrámo-nos e estreitámos relações. Hoje, é um dos meus melhores amigos.» Ambos confrontaram ideias no Correio dos Senadores do jornal Correio da Manhã e até já partilharam a presidência, em 2002, do grupo parlamentar de amizade entre Portugal e Espanha. Coelho sucedeu a Loureiro na Administração Interna. Em quase 35 anos de democracia, durante oito anos alguns dos maiores segredos do País estiveram «guardados»…. por esta dupla inseparável.
Loureiro foi uma das primeiras pessoas a saber que Coelho tinha um cancro. E fez das tripas coração para o ajudar. Ligou a Durão Barroso, este mexeu os cordelinhos em Paris e, dois dias depois, Coelho partia para França a fim de ser visto por um grande médico, a quem Chirac tinha ligado pessoalmente. Coelho confirmou, entretanto, à VISÃO que «há uns cinco anos» pediu «um empréstimo pessoal de 100 mil euros» ao BPN, na altura mais complicada da sua vida. Possui também uma conta na instituição, num balcão de Lisboa. A escolha, explica, resultou do facto de o gerente do balcão ser seu amigo de longa data, facilitando-lhe assim «o despacho rápido» do pedido. «Já não devo nada e paguei tudo direitinho. Neste momento, sou um mero cliente e talvez dos piores», garantiu.
Proença de Carvalho é outro amigo de Loureiro e ambos dão largas à veia de poetas e artistas de variedades. Já gravaram um CD com estas aventuras. Mais a sério, Proença foi o advogado escolhido pelo BPN para processar a revista Exame, quando Dias Loureiro se sentiu «incomodado» com as primeiras notícias sobre o banco, em 2001. Houve acordo e o caso foi enterrado.
Com Aznar encontra-se de vez em quando, incluindo em sua casa. O genro do ex-chefe de Governo espanhol, Alejandro Agag, foi assessor do antigo ministro de Cavaco, no BPN. Agag, ex-vice-presidente do Partido Popular Europeu (PPE), terá facilitado a integração do PSD naquele grupo de eurodeputados e a amizade com Durão Barroso virá desses tempos. Dias Loureiro já jantou e jogou golfe com Bill Clinton.
Com jornalistas, o ex-ministro também nunca se deu mal. Paulo Portas incluído, mesmo no tempo em que as manchetes d'O Independente demitiam ministros. Ou, se calhar, por causa disso, quem sabe? Cavaco não gostava desses relacionamentos dele, no período em que governou e deixou isso registado na sua autobiografia. Baptista-Bastos, de quem Dias Loureiro foi testemunha abonatória, num processo em que o queixoso era Alberto João Jardim, é outro dos seus amigos: «Detestava-o e disse-lho quando o conheci. Até lhe falei no rosto sombrio que ostentava, o que lhe conferia um ar sinistro.» BB ouvira-o, numa manhã de sábado, na rádio: «Ele possuía uma ampla informação política, económica, social e cultural do País. E desenvolveu as suas ideias, associando-as com uma forte componente social-democrata, à maneira, por exemplo, de Willy Brandt e de Olof Palme.» Vai daí, BB escreveu um artigo sobre isso e Dias Loureiro telefonou-lhe de Nova Iorque. Depois disso, foram-se encontrando, entre almoços e uísques, por vezes com Duarte Lima a juntar-se-lhes. Conheceu um Dias Loureiro que «se interessava por livros, pintura e música. E, sobretudo, por pessoas. Ajudou, desinteressadamente, muitas pessoas, entre as quais alguns nossos camaradas de Imprensa, que, neste momento, o ignoram ignobilmente», observa.
Dormindo com o inimigo
Em termos comparativos, Dias Loureiro tem feito mais pela boa imagem do PS e de Sócrates do que Manuel Alegre. Críticas, só à lupa. Nos últimos anos, o antigo governante do PSD foi todo mesuras com o rumo traçado pelo Executivo e saiu a terreiro em defesa do primeiro-ministro. «Se há coisa de que o Governo não pode ser acusado é de querer a todo o custo ganhar votos», afirmou, numa entrevista. Já recusou fazer uma análise «tremendista» e «catastrofista» da gestão do País, censurou a liderança de Marques Mendes por fazer uso do caso da licenciatura do chefe do Governo e emocionou-se com O Menino de Oiro do PS, a biografia autorizada de Sócrates. No lançamento público da obra, elogiou a afectividade, generosidade, sensatez, prudência e coragem do primeiro-ministro, cujo optimismo «faz bem ao País». Já na sequência dos episódios do BPN, Sócrates terá pedido ao PS para poupar nas críticas a Loureiro e outros «cavaquistas» citados nas polémicas sobre o banco. De resto, segundo o histórico socialista António Arnaut, Loureiro é dono da «tradicional irreverência coimbrã», ou seja, «dá-se bem com todos». É amigo de Jorge Coelho desde pequenino (ver outros textos) e também o foi do falecido dirigente Fausto Correia, que o considerou homem de honra, trabalho, «do poder e com poder». No Natal de 2000, editou um disco para amigos, com Almeida Santos. O ex-ministro deu voz a um bolero e à canção Pomba Branca. Na música como noutras matérias, o bloco central não desafina. E só Alfredo Barroso, ex-assessor de Mário Soares em Belém, se atreveu a outras sonoridades: «Nunca percebi as obscuras razões que justificam a credibilidade e a fortuna – políticas, entenda-se! – de que o doutor Dias Loureiro hoje goza», escreveu, em 2001. Visão
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