Não é a propaganda do Governo, não é a utilização de dinheiro da acção social escolar, não é o ajuste directo com uma empresa privada - o grande problema do Magalhães é o confronto com a realidade. Tudo o mais poderia ser desvalorizado como uma consequência inevitável da eficácia. A única coisa que a operação Magalhães não suporta é o seu próprio fracasso.
Nesta edição, a SÁBADO publica os resultados de uma ronda por cerca de 10% das ecolas do País. Os jornalistas da revista falaram com 55 agrupamentos, que equivalem a 482 escolas e a 25 940 alunos, para tentar saber se o Magalhães está a ser efectivamente usado para ensinar. Os resultados são desesperantes. Só 132 escolas usam o computador para aquilo que ele foi feito - 286 usam-no de forma irregular e 64 não o utilizam de todo.
As razões do fiasco ainda são mais deprimentes do que os números. Em algumas escolas, os quadros eléctricos não têm potência suficiente para alimentar os computadores. Noutras, os professores não aprenderam a trabalhar com eles e não sabem, por exemplo, pô-los a funcionar em rede. Noutras ainda, os professores não têm sequer o Magalhães. Há casos em que não foi feita a instalação da rede «wireless», que é responsabilidade das autarquias. Alguns alunos recebem o computador e vendem-no na primeira oportunidade. Muitos professores usam o Magalhães apenas como processador de texto, para fazer ditados. E outros utilizam-no como recompensa: os alunos mais rápidos a acabar os exercícios recebem autorização para jogar no computador durante as aulas.
A culpa é dos professores? É dos alunos? É dos pais? Talvez, mas é seguramente, antes de todos eles, do Governo, que lançou um megaprojecto em todo o País, que mexe com o funcionamento de milhares de escolas, sem ter tido precauções básicas. Mais uma vez, o primeiro-ministro usou a receita dos políticos desesperados: confrontado com um problema, o da liderança, o da iliteracia tecnológica dos portugueses, achou que o resolveria atirando dinheiro para cima dele. O dinheiro desapareceu e o problema mantem-se.
SÁBADO - 17-12-2009
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