Segunda-feira, 30 de Novembro de 2009
INSURGENTE
Os robalos. Por Alberto Gonçalves.
O certo, a acreditar nos jornais, é que além dos peixes do sucateiro, o dr. Vara recebeu informações privilegiadas, incluindo o aviso, nos idos de Junho, de que o seu telefone se encontrava sob escuta.
Curiosamente, nenhum dos bastiões ambulantes do “estado de direito” se indignou com esta particular violação do segredo de justiça. Ainda há dias, os bastiões rebentavam de fúria ao evocar as “fugas” do processo vindas a público. Se bem percebo, as “fugas” são medonhas quando chegam ao conhecimento geral e divulgam uma imagem desagradável do dr. Vara e sobretudo do eng. Sócrates. As “fugas” são aceitáveis quando permitem aos envolvidos precaverem-se contra as malfeitorias que um ou dois juízes teimosos lhes preparam. O venerável segredo, pois, só deve ser mantido enquanto tal para o cidadão comum, assim poupado a notícias que, em última instância, o levariam a questionar a infinita honestidade dos senhores que nos tutelam.
O engraçado é que não questionam. Ou, se questionam, o resultado é igualmente nulo. Em lugares menos folclóricos, insignificâncias assim já teriam causado a queda de alguma coisa, ou da imprensa que divulga mentiras ou dos visados nos factos que a imprensa relata. Aqui, tudo permanece intacto, provavelmente graças à firme e justificada convicção de que não resta cair mais nada e não há nada para salvar, excepto, suponho, a caixa de robalos.