Tem-se tornado hábito, nas últimas campanhas eleitorais, assistir-se a lamentos da intelligentsia acerca de como as campanhas dos principais partidos são incapazes de “mobilizar os portugueses”, acerca de como falham nas suas tentativas de “ultrapassar a descrença” dos portugueses. Em parte, têm razão em lamentar. Mas por outro, este é um facto que só abona a favor dos portugueses. Quando o país enfrenta problemas que, se não forem defrontados, nos deixarão um futuro negro, e a resolução desses problemas nos obrigará a enfrentar dificuldades hoje, a “descrença” e a “falta de esperança” são sinais de que os portugueses, ou pelo menos, uma parte significativa deles, compreendem a realidade. Algo que não se pode dizer, por exemplo, de José Sócrates. Pena que, com o começo do circo das duas últimas semanas, se tenha falado pouco disso.