1) Estamos no meio da maior crise económica internacional, que se cruzou, entre nós, com uma prolongada crise estrutural da economia portuguesa;
2) Parte da nossa crise deve-se à sucessiva perda de competitividade da economia, o que significa que a sua “taxa de câmbio real” (i.e. o preço relativo da sua produção nos mercados internacionais) está sobrevalorizada;
3) Os indicadores que habitualmente comprovam a perda de competitividade e a sobrevalorização da “taxa de câmbio” são os custos unitários de trabalho (custos salariais deduzidos da produtividade) que crescem acima dos concorrentes, e o aumento mais rápido do preço dos bens não transaccionáveis, face ao preço dos bens transaccionáveis (ou, se quiserem, a maior rentabilidade do sector não transaccionável, face ao sector transaccionável). Ambos os indicadores aplicados a Portugal comprovam indubitavelmente as conclusões de 2;
4) Como resultado combinado da falta de competitivdade com a redução da procura mundial originada pela crise, muitas empresas do sector transaccionável (nomeadamente multinacionais) têm vindo a fechar, com o consequente desemprego dos seus trabalhadores, e as que ainda não fecharam estão em grandes dificuldades.
5) No entanto, em cima disto verifica-se:
a) as empresas do sector não transaccionável continuam a apresentar lucros historicamente muito elevados;
b) os trabalhadores do sector estatal, incluindo das empresas que vivem cronicamente em défice, foram aumentados muito acima da inflação prevista e num ano onde é previsível que a produtividade, pelo menos, estagne;
c) serviços do sector não transaccionável anunciaram aumentos de preços acima da inflação prevista.
É impressão minha, ou há qualquer coisa estranha nesta sequência?