Sócrates encheu uma página de razões para os portugueses não votarem PSD. Ferreira Leite foi ainda mais eloquente
O secretário-geral do PS escreveu uma página de opinião no JN de terça-feira, 11. Campanha eleitoral, pura e dura, em discurso directo, onde faz a apologia da governação PS, a executada e a que se propõe para mais quatro anos. Um raciocínio linear, bem ao seu estilo, onde revela não só as coisas que quer que vejamos como também as que aparentemente não consegue ver. Nesta página inteirinha de texto, sem uma única ilustração mas nem por isso cinzenta , a leitura vale sobretudo pelas apreciações que faz às alegadas opções políticas do maior partido da oposição. Curiosamente, sem uma única linha dedicada à principal fragilidade actual do PSD, a machadada que Ferreira Leite deu à sua própria credibilidade como líder partidária e candidata a chefe de Governo.
Sócrates enuncia as muitas medidas tomadas nos últimos quatro anos, recorda decisões emblemáticas, mau grado a crise "que veio de fora", e elenca as questões-chave que distinguem socialistas de sociais-democratas na altura de ir a votos: "atitude", "investimento público" e "Estado Social". Antes, lembra o básico, "ter ou não ter programa": o PS tem um, o PSD esconde o seu. No fim, em "Confiança no futuro", diz que "Para Portugal, a alternativa real é entre o PS ser de novo chamado a formar Governo ou regressar a um Governo de direita." Um caminho que é estreito para muitos, porque quem "diz mal do PS" e quem apoia aquela esquerda que se "dispensa da maçada de contribuir com soluções", é porque prefere a direita no poder.
'Ter ou não ter programa': diz Sócrates que o PS tem um e tem ideias; o PSD não o tem e é um vazio de ideias. "Atitude": segundo lembra, o PS não baixa os braços. Foi assim nas reformas no princípio do mandato, e foi o mesmo no último ano, nas acções de resposta à crise; quanto ao PSD, diz que apenas fala de medo.
"Investimento público": o PS fez o que fizeram todas as economias, reforçando o investimento para travar a crise; o PSD, sustenta, continua amarrado aos seus preconceitos, defendendo o corte da despesa pública.
"Estado Social": o PS defende o refor ço das políticas sociais, modernização dos serviços públicos, redução das desigualdades sociais; o PSD, diz, insiste na defesa do Estado mínimo.
Serão as coisas assim, tão a preto e branco? Estão mesmo muito longe de o ser. Mas o ponto, a reter aqui, é que a liderança de Ferreira Leite tem inúmeras brechas, e todas elas estão identificadas no texto de Sócrates. Em bom rigor, desembocam todas no mesmo pecado: a ausência de qualquer mensagem substancial para o eleitorado. Não se sabe o que pensa este PSD de Ferreira Leite. No melhor dos casos, imagina-se. O que, no limite, obriga a que primeiro se lhe invente uma ideia para depois a contestar.
Mas o que de pior aconteceu no principal partido da Oposição não mereceu uma única linha a Sócrates. Não vale a pena perguntar porquê, sabemos a resposta.
A força da líder do PSD assenta na imagem que muitos cidadãos dela fazem: a de uma pessoa séria, escrupulosa, incapaz de colocar interesses e relações pessoais à frente dos interesses institucionais sejam os do Estado sejam os do próprio partido. Essa ideia, com um potencial de mobilização muito grande nos dias que correm, em que existe um desgaste significativo do poder político, ficou seriamente afectada com o processo da escolha dos candidatos eleitorais do PSD.
Ferreira Leite perdeu uma excelente oportunidade para se afirmar como a líder de todo o partido, e não de apenas alguns. Matou, com o seu autoritarismo e sectarismo, o entusiasmo que militantes e simpatizantes tinham ganho com a vitória nas Europeias. Mais grave, ao impor António Preto e Helena Lopes da Costa nas referidas listas deu uma machadada vergonhosa no caminho de moralização política que PS e PSD têm vindo a percorrer, apenas aceitando candidatos que tenham as contas em dia com a Justiça.
Ao impor António Preto ao partido, Manuela Ferreira Leite prestou um mau serviço a si própria, não dignificou a imagem que um candidato a primeiro-ministro deve ter e colocou mais um prego no grande caixão em que a actividade política e a democracia estão a mergulhar. E desbaratou também o seu principal activo enquanto candidata à liderança do Governo. Um activo que lhe permitia afirmar uma diferença capaz de conquistar muitos votos, e que lhe supria também a falta de mensagem que Sócrates caricaturou.
O chefe dos socilaistas encheu uma página de razões para os portugueses não votarem PSD. Ferreira Leite foi muito mais eloquente. É que, sem esse activo de seriedade e autoridade inquestionável, o que tem neste momento a líder do PSD para oferecer aos portugueses?
9:37 Quinta-feira, 13 de Ago de 2009
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