Enquanto o tempo passava e o século XX dobrava, Portugal apareceu de repente invadido por milhares de coisas que não existiam. O mundo também.
Algumas até falavam e noutras podíamos ver o mundo inteiro, primeiro a preto e branco e depois a cores.
Eram tantas coisas, que nos deixavam de boca aberta.
Esta geração não se assustou e em pouco tempo já as ligava e desligava e uns meses mais à frente até as sabía consertar.
Computadores e tudo. Até programar!
Portugal não ficou envergonhado e até tínhamos dos melhores técnicos, segundo diziam os nossos emigrantes de férias em Portugal!
Quando se quer muito, tudo se resolve, mas é preciso que acreditem em nós.Num momento Portugal também ficou cheio de carros, motas, barcos de recreio etc.
A sua posse tornou-se banal.
Os satélites e as viagens à lua também, não no uso mas nos noticiários!
Certo dia, num aeroporto ouvi alguém que chegava dizer à mulher que o esperava: viajei de avião para a Madeira, em serviço, e dormi num bom hotel. Nunca esperei. Sinto-me tratado com respeito.
Nem tudo foram sacrifícios, esta geração já tinha férias, subsídios de doença, assistência médica, descontava para a reforma e, até, comparticipação nos lucros.
Daí a fazer férias no estrangeiro foi um passo. Tudo a prestações! Diziam que não havia liberdade, mas ela nem tinha tempo para pensar nisso.
A “geração de ouro” queria era trabalhar e poupar, para que nada faltasse aos seus filhos e aos seus pais.
De repente, em Abril/74, começaram-nos a dizer para não trabalharmos tanto e para pedirmos aumento de vencimento. Muitos ingenuamente fizeram-no. As greves dispararam!
No final dos meses os vencimentos começaram a estar em perigo. Havia boatos de que era preciso reduzir custos e despedir ou pré – reformar os mais velhos, aqueles que nunca quiseram fazer greve. Aqueles que só queriam que os deixassem trabalhar.
Aos cinquenta anos o José, e o seu primo da Lisnave, que sabia reparar barcos muito grandes, estavam os dois sentados no banco do jardim. Aos poucos vinham chegando cada vez mais e mais. Os bancos já não chegavam.
Foi a ruptura com esta “geração de ouro”. Tinha de ser ela a pagar a crise, mesmo sem fazer greves. Mesmo poupando e amealhando para o futuro!
Naturalmente sentiu-se mal tratada, desprezada. Até hoje continua a pagar!
Parece um castigo!
Nos bancos do jardim ouviam-se coisas como estas: “pelo meu filho soube que na escola dele nenhum miúdo sabia o que era uma lima ou uma grosa. Ninguém sabia a tabuada ou fazer contas. Só sabiam que o Porto era o “maior”!. Tudo isto deveria ser da minha cabeça pois, vi num jornal do clube do bairro, que agora estudam muito mais crianças mas, uma olhou para o jornal que eu lia, e não conseguia ler direito”.
Era uma das que aumentavam as estatísticas do aumento da escolaridade!
Noutro banco podia-se ainda ouvir um pré-reformado: “fui visitar os meus antigos colegas para lhes contar as coisas estranhas que tenho sabido no jardim. Preferia não ter lá ido, estava um licenciado no meu lugar a fazer contas de somar contando pelos dedos. Ainda me ofereci para o ajudar, mas ele olhou-me com má cara”.
Enterraram a “geração de ouro” nos bancos do jardim, prematuramente, e continuam a tirar-lhe dinheiro e regalias que com tantos sacrifícios tinham conseguido! As conquistas eram uma mentira! Nada está adquirido! Tudo é perene. Para alguns não!
Se calhar estes “novos velhos” estavam a mais e deveriam ter morrido mais cedo, como os seus pais, aos cinquenta anos. Era melhor para todos. Esticaram tanto a corda, que partiram o fio condutor!
Agora não encontram remédio para o défice das finanças públicas! Nem para o défice externo. Nem para o desemprego que dispara! E a competitividade não funciona!
Vão ver que ainda vêm ter connosco para pagarmos tudo isto! Certo e sabido. Em lugar de comparticipação nos lucros, a tal geração ganhou comparticipação nos prejuízos! Afinal quem foram os responsáveis por tudo isto? Provavelmente estão no estrangeiro … ou com programas na televisão!
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