Não se falava de "Pizza Hut" ou "McDonald's", nem de café instantâneo.
- Havia casas onde se compravam coisas por 5 e 10 centavos. Os sorvetes, os bilhetes de autocarros e os refrigerantes, que se chamavam pirolitos, tudo custava 10 centavos.
- Cem escudos dizia-se: "cem mil reis".
- No meu tempo, "erva" era algo que se cortava e não se fumava.
-"Hardware" era uma ferramenta e "software" não existia.
- Vimos aparecer milhares de outras coisas, nunca vistas. Vimos cada uma delas evoluir, não parar de evoluir. Habituámo-nos a aceitar que tudo muda, nem sempre para melhor, mas só pode evoluir na continuidade e com muito suor. Recusaríamos deixar para trás os mais velhos, a vida só pode existir com eles. Sempre com eles, se alguém está a mais são os mais novos que se licenciam sem saber escrever corretamente na sua própria língua! A culpa não é só deles . É da geração revolucionária.
-Quando ouvimos falar de trapalhadas começámos a ficar perplexos e, mais ainda ficámos, quando mais à frente as mesmas coisas passaram a ser tratadas de enganos.
- Fomos a última geração que acreditou que uma senhora precisava de um marido para ter um filho.
- Somos a geração que nasceu nos anos trinta e nos anos quarenta do século passado e que começou a trabalhar respetivamente, nos anos cinquenta e sessenta, sempre antes de ir às “sortes” (tropa) como se dizia então.
- Apanhámos toda a evolução atrás referida e sem ter tido condições de ir para a universidade ou mesmo ao secundário, fora ou dentro do país. Mas, nos anos em que estudámos aprendemos muito, se lhe juntarmos a experiência adquirida, em valor relativo temos uma licenciatura e em civismo um doutoramento licenciados.
- Não nos manifestámos contra as propinas, embora tivéssemos pago os estudos a muitos alunos e a tudo nos adaptámos. Aprendemos a arranjar e a trabalhar tudo que havia: computadores, televisões, máquinas de lavar, frigoríficos, automóveis, aviões etc., tudo aquilo ( milhares de coisas) que Portugal nunca tinha visto e que em meia dúzia de anos nos invadiram.
- Devemos ter sido a última geração a ter ouvido alguém dizer para se :
“ Produzir e Poupar”.
- As seguintes foram incentivadas a recorrer ao crédito até atingirem o endividamento que é hoje dos mais elevados e escandalosos do mundo! Alguns acreditaram depois da revolução dos cravos que o consumismo trazia a abastança ao país. Mesmo sem produzir !
- Tivemos uma alimentação deficiente e ainda ouvimos falar de “ uma sardinha para três”. Não tivemos médicos, nem professores, nem tudo aquilo que agora se esbanja para apresentar indicadores de gente rica.
- Os professores, os médicos, os juizes etc. , que havia, não pensavam nos interesses de classe. Pensavam no serviço público que muito os honrava.
- Saímos de casa dos pais cedo, muito cedo, às vezes para muito longe e muitas outras vezes para nunca mais voltar. Roíam as saudades, mas era preciso poupar para enviar “dinheiro” que assegurasse algum sustento aos país já velhinhos e ajudasse a equilibrar as finanças da mãe pátria, já que ela não nos tinha podido ajudar.
- Sempre com Portugal no coração, mesmo sem dinheiro para vir da férias, íamos mandando para cá o pouco que sobrava, ou fazíamos sobrar apertando o cinto. Soubemos mais tarde que era esse pouco de cada um e o muito porque éramos muitos, que ia permitindo ao nosso país manter uns senhores doutores a ganhar bem e a dizer que a culpa do estado do país era nosso, porque não tínhamos estudos! Não há melhor universidade que a vida! Os maiores empresários portugueses e do mundo não tinham cursado, mas Deus deu-lhes o dom de saberem reproduzir a riqueza!
- Íamos mantendo um país que comia muito mais do que aquilo que produzia e assim desequilibrava, anos a fio, a sua balança de pagamentos e as contas do Estado.
- Fizemo-nos empresário espalhados pelo mundo e fomos admirados e respeitados pelo comportamento cívico que soubemos ter . Os nossos filhos respeitaram-nos.
- Nós que aguentámos tantas guerras, como a da Guiné, de Angola, de Timor, de Moçambique, da Índia etc. Quantos de nós lá morreram? Quantos ficaram feridos para sempre ? Quantos perderam o sossego e ganharam noites de insónias sem fim ?
- Quantos vimos desaparecer do conceito de pátria que nos tinham ensinado, partes de Portugal como Goa, Damão e Dio, Macau, Timor, Angola etc. Nós até sabíamos que esses povos supostamente independentes iriam passar um longo calvário e que, no fundo, se consideravam também portugueses, porque nos bancos da escola foi isso que aprenderam.
- Quantos anos temos é o que menos importa, pois, o que mais importa é que temos uma experiência de vida nunca antes alcançada por outra geração anterior ou posterior. Polivalentes, experientes e com uma alma de “ antes quebrar que torcer”.
- Pela experiência de vida que temos, vivemos muitos mais anos que a média de esperança de vida referida nas estatísticas oficiais, mesmo sem os vivermos.
- Nós que do pouco que ganhávamos sempre descontámos para na velhice termos uma reforma e que vemos agora uns senhores doutores reduzirem-na e pôrem em perigo aquilo que nós honestamente conquistámos. Eles que arrecadam reformas chorudas em 4 ou 5 anos de pouco ou nulo trabalho.
- Eles que acumulam erros graves na governação do país a todos os níveis, não os assumem, nem há quem os faça assumir. Erros que somos nós a geração de ouro que paga em sacrifícios e muito sofrimento.
- Os mesmos senhores doutores que nos atiraram para reformas antecipadas que não queríamos. Nós sempre quisemos trabalhar até poder. Quiseram dar o nosso lugar a jovens que dizem ter cursos superiores, mas na realidade pouco sabem e por essa razão o país está e continuará a estar, como todo o mundo sabe. Sempre a pedir cada vez mais sacrifícios.
- Os donos das tais universidades que lecionam cursos sobre tudo e sobre nada, têm os bolsos cheios. Pela sua influência atiraram e continuam a atirar trabalhadores honestos e competentes para a pré-reforma para o negócio continuar a render e qualquer dia somos como o Brasil onde todos são “doutores” e as favelas proliferam num país rico!
- É preciso arranjar trabalho para tanto licenciado desempregado e a segurança social já não tem fundos para suportar maios trabalhadores na pré-reforma. Agora é preciso reduzir centenas e centenas de cursos sobre nada e encaixar nas autarquias milhares de licenciados que a atividade privada não precisa nem quer! Lá vão mais uns milhões em subsídios para colocar licenciados.
- Entretanto recebemos milhares de emigrantes porque os portugueses não sabem ou não querem arranjar torneiras, televisões, barcos etc. Os alunos das estatísticas nacionais sabem de tudo e não sabem de nada. O mercado de trabalho não os quer! Também eles não têm culpa, hoje já nem podem empregar-se na função pública de onde terão que sair muitos milhares de trabalhadores considerados excedentários. Saem por um lado e entram por outro (licenciados estagiários) !
- A Geração de Ouro não pertence às que se lhe seguiram e a quem disseram que o 25 de Abril lhes daria tudo, mesmo sem trabalharem e, disso, muito se orgulha. Entretanto, nascemos e morremos a pagar os erros de outras gerações!
- As outras gerações também não têm culpa, são igualmente vitimas. A culpa será dos poderes de decisão deste país, estejam eles onde estiverem.
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