Quarta-feira, 27 de Março de 2013

VIDA DE MENDIGO

O SEU TESTAMENTO

 

Agora, no fim da vida,

Como mendigo que sou,

Me sinto preocupado,

Intrigado, e num momento,

Me pergunto, embaraçado,

Se faço ou não testamento?

Não tendo, como não tenho

E nunca tive ninguém,

P´ra quem é que eu vou deixar

Tudo o que eu tenho:

Os meus bens?

P´ra quem é que vou deixar,

Se fizer um testamento,

Minhas calças remendadas,

O meu céu, minhas estrelas,

Que não me canso de vê-las

Quando ao relento deitado

Deixo o olhar perdido,

Distante, no firmamento?

Se eu fizer um testamento

P´ra quem é que vou deixar

Minha camisa rasgada,

As águas dos rios, dos lagos,

Águas correntes, paradas,

Onde às vezes tomo banho?

P´ ra quem é que vou deixar,

Se fizer um testamento,

Vaga-lumes que em rebanhos

Cercam meu corpo de noite,

Quando o verão é chegado?

Se eu fizer um testamento

P´ra quem é que vou deixar

Mendigo assim como sou,

Todo o ouro que me dá

O sol que vejo nascer

Quando acordo na alvorada?

O sol que seca meu corpo

Que o orvalho de madrugada

Com sua carícia molhou?

P´ra quem é que vou deixar,

Se fizer um testamento,

Os meus bandos de pardais,

Que ao entardecer, nas árvores,

Procuram se divertir,

P´ra quem é que vou deixar

Estas folhas de jornais

Que uso para me cobrir?

Se eu fizer um testamento

P´ra quem é que vou deixar

Meu chapéu todo amassado

Onde escuto o tilintar

Das moedas que me dão,

Os que têm alma boa,

Os que têm bom coração?

E antes que a vida me largue,

P´ra quem é que vou deixar

O grande “stock” que tenho

Das palavras,“Deus lhe pague”?

P´ra quem é que vou deixar,

Se fizer um testamento

Todas as folhas de Outono

Que trazidas pelo vento

Vêm meus pés atapetar?

Se eu fizer um testamento

P´ra quem é que vou deixar

Minhas sandálias furadas,

Que pisam mil caminhos,

Estradas por onde andei

Em andanças vagabundas?

P´ra quem é que vou deixar

Minhas saudades profundas.

Dos sonhos que não sonhei?

P´ra quem é que vou deixar,

Se fizer um testamento,

Os bancos dos meus jardins,

Onde durmo e onde acordo

Entre rosas e jasmins?

P´ra quem é que vou deixar,

Todos os raios de luar

Que beijam as minhas mãos

Quando num canto da rua

Eu as ergo em oração?

Se eu fizer um testamento

P´ra quem é que vou deixar

Meu cajado, meu farnel,

E a marca deste beijo

Que uma criança deixou

Em meu rosto

Perguntando

Se eu era o Papai Noel?

P´ra quem é que vou deixar,

Se fizer um testamento

Este pedaço de trapo

Que no lixo eu encontrei

Que transformei em lenço

Para enxugar minhas lágrima

Quando fingi que chorei

Se eu fizer um testamento …

Testamento não farei!

Sem nenhum papel

Passado,

Que a papéis eu não ligo,

Agora estou resolvido:

O que eu tenho deixarei,

P´ra qualquer outro mendigo,

Depois que eu tiver morrido,

Ser tão feliz quanto eu sou.

 

 

 

 

publicado por luzdequeijas às 23:53
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