( ... ) A crise confronta-nos com o paradoxo fundador da sociedade capitalista: a produção dos bens e serviços não é para ela um objectivo, mas apenas um meio. O único objectivo é a multiplicação do dinheiro.Só nas últimas décadas é que chegámos ao ponto de quase toda a manifestação da vida passar pelo dinheiro e este se ter infiltrado até nos recantos ínfimos da existência individual e colectiva. Sem o dinheiro, que faz circular as coisas, somos como um corpo sem sangue.
Pode-se assim colocar a necessidade - mas também verificar a possibilidade, a vantagem - de sair do sistema baseado no valor e no trabalho abstracto, no dinheiro e na mercadoria, no capital e no salário. Mas esse salto no desconhecido mete medo, mesmo àqueles que nunca se cansam de fustigar os crimes dos "capitalistas". Por agora, o que prevalece é antes a caça ao vilão especulador. Ainda que não possamos deixar de partilhar a indignação perante os lucros dos bancos, é preciso dizer que ela está muito aquém de uma crítica do capitalismo enquanto sistema. ( ... ) A verdade é bem mais trágica: se os bancos sucumbem, se vão à falência em cadeia, se param de distribuir dinheiro, arriscamo-nos todos a sucumbir com eles, porque desde há muito tempo que nos retiraram a possibilidade de viver de outra maneira que não seja gastando dinheiro. É bom reaprendê-lo - mas quem sabe a que "preço" isso irá acontecer!
Ninguém pode dizer honestamente que sabe como organizar a vida de dezenas de milhões de pessoas quando o dinheiro tiver perdido a sua função. Seria bom admitir, pelo menos, o problema. É talvez necessário prepararmo-nos para o "pós-dinheiro" como para o "pós-petróleo".
Anselm Jappe - Filósofo
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