Terça-feira, 19 de Maio de 2009

GRANDE MISTÉRIO

 
 
Fevereiro 17 2009

Surpresa é talvez a reacção mais natural perante os números do desemprego divulgados hoje pelo INE: 437,6 mil indivíduos desempregados e uma taxa de desemprego de 7,8 por cento para o 4.° trimestre de 2008, o que implica um número médio de apenas 427,1 mil indivíduos desempregados em 2008 para uma taxa anual de apenas 7,6 por cento. Digo apenas, face aos números esperados.
E a surpresa é maior quando temos presente as inúmeras notícias que todos os dias nos dão conta de uma onda generalizada de despedimentos e de um número cada vez maior de indivíduos desempregados que acorrem aos centros de emprego. E, se aqui cheguei a referir que sobre este facto havia uma grande confusão em toda a Comunicação Social, ele não deixava, no entanto, de ser um indicador que não pressagiava nada de bom  para a evolução do emprego em Portugal.
Mas a surpresa aumenta quando nos lembramos das previsões de Bruxelas e do próprio Governo. Tal como aqui tive oportunidade de referir, uma previsão de uma taxa de desemprego de 7,9 por cento para o ano de 2008, segundo Bruxelas, pressupunha uma taxa de desemprego de 8,5 por cento para o último trimestre e um número de desempregados superior a 480 mil. E a previsão de 7,8 do Governo apontava para uma taxa de desemprego de 8,1 por cento e um número de desempregados superior a 460 mil. Tudo números muito superiores aos divulgados pelo INE.
Alguns economistas justificam estes números, ainda conservadores, pelo facto de o mercado de trabalho estar desfasado em relação ao andamento da economia, que como se sabe entrou em recessão técnica desde o quarto trimestre do ano passado e se estima irá permanecer em recessão ao longo deste ano.
No entanto, as notícias com despedimentos que chegam todos os dias empurram-me para outro lado. As estatísticas são o que são. Apenas estatísticas, números que obrigam a muitas leituras e releituras.

A mim, por exemplo, perturba-me a linearidade da evolução das populações activa, inactiva e empregada verificada ao longo dos últimos anos. Como se a população activa e inactiva evoluíssem apenas em função da população empregada.

E que representa uma alteração significativa ao comportamento destes indicadores até ao ano de 2004. A partir de 2006, verifica-se mesmo uma sobreposição das curvas de evolução da população desempregada e da taxa de desemprego. Nestas alturas, ponho-me a pensar. E quando dou por mim já não sei onde acaba a realidade e começa a ficção.
É que se a população activa no último trimestre de 2008 fosse igual à população activa do 2.° trimestre e o a evolução da população empregada tivesse evoluído de acordo com os números do INE, hoje, estaríamos a falar de uma taxa de desemprego de 8,2 por cento no 4.° trimestre de 2008 e de 461,6 mil desempregados. Para o ano de 2008, teríamos uma taxa de desemprego de 7,8 por cento, que é, provavelmente por mero acaso, igual à previsão do Governo. É que, segundo o INE, desde o 2.° trimestre de 2008, desapareceram da população activa 24 mil indivíduos, que, ao desaparecerem, dominuíram naturalmente o número de desempregados. Não é a primeira vez que aqui levanto esta questão.  A alteração de comportamento da evolução da população activa a partir de 2004 e da sua influência na evolução da taxa de desemprego já aqui me mereceu alguns comentários.
Mas quanto mais lemos os números, mais a surpresa aumenta. É que apesar de uma ligeira diminuição da população empregada, quer em relação ao trimestre anterior, quer em relação ao trimestre homólogo de 2007,  o número da população empregada por conta de outrem aumentou – mais 11 mil do que no trimestre anterior e mais 44 mil do que em 2007 – e esse aumento fez-se com o aumento dos contratos sem termo – mais 58 mil do que em 2007 – e uma diminuição dos contratos a termo – menos 14 mil. Afinal, nada com uma boa crise e um Código do Trabalho rígido para acabar com a frigidez.

Em 2008, segundo os dados agora revelados pelo INE, a economia gerou 28,1 mil novos empregos, em 2007, gerou apenas 10,2 mil, em 2006, gerou 36,9 mil e, em 2005, gerou zero. Ou seja, nos últimos quatro anos, a economia gerou 75 mil novos empregos, metade do número que Sócrates prometeu, mas o que fica bem claro é que não foi a crise que o impediu de cumprir a promessa. Bem pelo contrário. Em ano de crise, os resultados foram muito superiores a 2005 e a 2007. A não ser que os números hoje divulgados pelo INE não passem de pura ficção. Ou será que, com tanto branqueamento, tudo ficou cor-de-rosa?

 

á de moura pina

publicado por abrasivo às 16:46
publicado por luzdequeijas às 17:26
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1 comentário:
De Zé da Burra o Alentejano a 20 de Maio de 2009 às 17:14
O FIM DE DO OCIDENTE

A Globalização, tal como foi concebida, vai determinar o fim da prosperidade do ocidente que passará para segundo plano e será ultrapassado pelas as novas superpotências que a globalização ajudou a criar: a China, a Índia...
O Ocidente caiu na armadilha da globalização que interessava às grandes Companhias, que pretendiam aproveitar-se dos baixos custos de produção no oriente. Todos sabem que o custo da mão de obra é insignificante no valor dos bens aí produzidos, em virtude dos baixos salários e da inexistência de quaisquer obrigações sociais. Como os bens produzidos se destinavam è exportação para o ocidente, como o ocidente perde poder de compra, a crise acaba por tocar também as novas potências, mas a crise nesses países é e será sempre um menor crescimento económico: há poucos anos era de dois dígitos e agora deverá ficar-se por 6 ou 7%, mas a isso não se poderá chamar de “crise”. O ocidente é que está condenado a um crescimento económico negativo (regressão económica).
Ao aderiram ao desafio da "globalização selvagem", os países da União Europeia prometeram ao seus cidadãos que as suas economias se tornariam mais robustas e competitivas (não sei bem como?) e não exigiram aos países do oriente que prestassem às suas populações melhores condições sociais, como: criar regras laborais, melhores salários, menos horas e menos dias de trabalho, férias anuais pagas, assistência na infância, na saúde e na velhice para poderem aceder livremente aos mercados do ocidente. Não, o ocidente optou simplesmente por abrir as portas à importação sem essas condições, criando assim uma concorrência desleal e “selvagem” de que sairá sempre a perder. A única solução será a de nivelar os salários e as condições sociais do ocidente pelos do oriente. E não é a isso que estamos a assistir neste momento? Para que servem, por exemplo, as alterações ao "Código de Trabalho" e as reduções das contribuições das Empresas para a Segurança Social? Esses países nem sequer estão comprometidos com a defesa do ambiente e as suas tecnologias são até mais baratas mas altamente poluentes. Assim, o ocidente e a UE ditou a sua própria “sentença de morte”: enquanto algumas empresas não resistem à concorrência e fecham as portas para sempre, outras irão deslocar-se para a China ou para a Índia para assegurar a sua própria sobrevivência o que provocará o definhar da economia ocidental e obviamente desemprego. Quanto aos trabalhadores, será que depois do razoável nível social que atingiram vão aceitar trabalhar a troco de um ou dois quilos de arroz por dia sem direito a descanso semanal, sem férias, sem reforma na velhice, etc...? Não! por isso o ocidente está já a iniciar um penoso caminhar em direcção ao caos: a indigência e o crime mais ou menos violentos irão crescer e atingir níveis inimagináveis apenas vistos em filmes de ficção que nos põem à beira do fim dos tempos como consta nos escritos bíblicos. A Segurança Social não poderá em breve suportar o esforço para minimizar os problemas que irão crescer sempre: a época áurea do ocidente já é coisa do passado e em breve encher-se-á de grupos de salteadores desesperados, sobrevivendo à custa do saque. Regressaremos a uma nova “Idade Média”, se é que poderei chamar assim: A classe média desaparecerá e existirão uns (poucos) muito ricos, alguns à custa do crime violento e/ou económico, e que habitarão autênticas fortalezas protegidas por todo o tipo de protecções, e que apenas sairão rodeados por guarda-costas dispostos a matar ou a morrer pelo seu “senhor”; haverá, em simultâneo, uma enorme mole de gente desesperada de mendigos e de salteadores que lutam pela sobrevivência a todo o custo e cuja protecção apenas poderá ser conseguida agrupando-se, pois as ruas serão dominadas pelos marginais, ficando as polícias confinadas aos seus espaços próprios e reservadas para reprimir as “explosões” sociais que possam surgir.

Zé da Burra o Alentejano


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