O presidente da Câmara Municipal de Leiria, Raul Castro, disse hoje à agência Lusa estar convicto de que a forma como está a ser feita a Reforma Administrativa Local «pode levar à queda do próprio Governo».
O autarca, um independente eleito pelo Partido Socialista (PS), afirmou que este processo está a transformar-se numa «situação explosiva» e a «causar crispação junto de eleitos de todos os partidos e da população em geral».
Raul Castro explicou que, caso se some «o desemprego, o ataque à classe média e a insegurança», a reforma administrativa «tem todas as condições para fazer transbordar o copo e trazer consequências políticas sérias para este Governo».
As declarações do presidente da autarquia foram feitas em Marrazes, Leiria, durante um fórum promovido pelo Movimento de Freguesias de Leiria (MFL) ¿ que representa 27 das 29 freguesias do concelho ¿, o qual juntou autarcas e deputados.
Já o presidente da Câmara da Batalha, António Lucas, um independente eleito pelo PSD, revelou que no seu concelho «a situação vai ser analisada e serão apresentadas propostas credíveis para encontrar um modelo adequado, que não implique mais custos e garanta a qualidade do serviço às populações».
Os dois deputados socialistas presentes no fórum ¿ faltaram ao debate os deputados eleitos pelo PSD e pelo CDS-PP, os dois partidos da coligação governamental ¿ defenderam que a reforma administrativa não vai resolver qualquer problema.
João Paulo Pedrosa disse não conseguir perceber «como é que se avançou sem ter em conta a questão da lei de atribuições e competências» e Odete João criticou «um processo que começou a casa pelo telhado».
No sábado, a Associação Nacional de Freguesias (Anafre) convocou uma manifestação a realizar em Lisboa, a 31 de março, defendendo que esta deve ser vista pelos partidos do Governo e pelo PS como um sinal de que a reforma administrativa deve ser «profundamente alterada».
«É do interesse dos portugueses e do Governo que esta reforma seja concretizada com os eleitos locais, de freguesia e de município com as populações e não contra [elas], porque, se se levar por diante a intenção insensata de impor esta reforma aos cidadãos e eleitos locais, depois teremos de ver quem é que a vai implementar na prática e no terreno», afirmou o presidente da Anafre, Armando Vieira, autarca do PSD.
O secretário de Estado da Administração Local e Reforma Administrativa, Paulo Júlio, disse no domingo à Lusa que os «portugueses não vão interpretar bem» a iniciativa, se o protesto das freguesias, anunciado na véspera, for «uma manifestação pela manifestação».
A Anafre tem defendido que «a reorganização administrativa é importante, só que tem de se ouvir as populações», mas o governante frisou que «as populações têm sido ouvidas», lembrando que nos últimos seis meses realizou mais de 60 sessões de esclarecimento em todo o país.
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