A apanha da azeitona era um trabalho agrícola realizado entre os meses de Novembro e Fevereiro.
Logo de manhã cedo, grupos de rapazes e raparigas juntavam-se à porta da casa do patrão, cada um com a sua cesta de arco, onde levavam a comida (broa, sardinhas e azeitonas) e só regressavam à noite.
Os rapazes levavam as varas às costas com os panais embrulhados e o quarto ou a cabaça da «pinga».
As raparigas levavam o cabaz de verga e os sacos de linhagem.
Os panais eram feitos de linhagem ou de pano cru comprado na feira. No final da safra, estes, eram sujeitos a barrela (lavagem com água quente e cinza) servindo depois para colocar na cama, utilizados como lençoi
O TRAJE
Os rapazes iam vestidos com calças e colete de cotim, camisa de riscado e na cabeça levavam um chapéu de aba larga, também de cotim, todo pespontado, feito pelo alfaiate. Iam calçados de tamancos e usavam cinta preta à volta da cintura.
As raparigas usavam: blusa, avental e saia até ao artelho, tudo de riscado. A saia era escura, usando por baixo desta uma outra também de riscado, mais clara e um saiote vermelho por causa do frio.
Para levantar e segurar as saias usavam uma cinta preta.
Na cabeça, levavam um lenço de melrinho amarelo, cujas pontas cruzavam por baixo do queixo e atavam atrás (lenço atado abaixo). Por cima do lenço colocavam um chapéu preto. Usavam também um xaile preto traçado e atado atrás ou à cinta, conforme fazia frio ou calor.
A VAREJA
Quando chegavam ao olival, as raparigas punham um avental de linhagem para não sujarem o outro. Estendiam os panais debaixo das oliveiras e os rapazes mais ágeis, subiam às mesmas, para irem até às pontas, enquanto os mais velhos com as varas andavam por baixo.
Durante o trabalho o grupo cantava algumas cantigas entre as quais se destacava esta:
À entrada desta rua
Logo mesmo à entrada
Há uma oliveirinha nova
Qu'inda não foi abanada
Azeitona miudinha
Que azeite pode render
Os homens de pouca barba
Que vergonha podem ter
Apanhemos a azeitona
Que a comem os pardais
Comem uma, comem duas
Comem três não comem mais
No fim de cada quadra, era feito um apupo que servia de chamada aos grupos que se encontravam no mesmo serviço nos olivais vizinhos que respondiam: úú-úú-úú.
Chegada a hora do meio dia (jantar) acendia-se a fogueira para assar as sardinhas que eram comidas com broa e azeitonas retalhadas. Para beber era a «pinga» (água-pé) ou água.
No decorrer dos trabalhos ou no regresso a casa, quando encontravam algum homem ou rapaz a «jeito» (caçador, patrão, carteiro, ...) logo uma rapariga escolhida do grupo se lhe dirigia com um ramo de oliveira carregado de frutos com o fim de o penhorar dizendo:
Ofereço-lhe este raminho
Que veio do arvoredo
Eu venho com delicadeza
Penhorar o Sr. Dr. «Azaredo»
Aqui vai este raminho
Cheiinho de botões
Eu te venho penhorar
O penhorado agradecia, dando-lhe um pequeno donativo que servia para ajudar a comprar os bolos, chá, açúcar, e outra mercearia com que presenteava o patrão no dia da penhora, respondendo-lhe:
Eu aceito o raminho
Da raiz do coração
Mas vou dar-lhe um abraço
Não um aperto de mão
No fim do dia e de regresso a casa, transportavam a azeitona nos sacos, em burros, em carros de bois ou mesmo à cabeça.
Chegados a casa, procedia-se à limpeza da azeitona, arremessando-a contra o vento para se separar da folha, caindo depois sobre os panais previamente estendidos.
Limpa a azeitona, era a mesma colocada em cestos de verga e salgada para não «arder».
Ao serão, tratava-se de escolher os ramos, depenicando a azeitona que ainda continham.
Seguidamente, a azeitona era transportada para os lagares e transformada em azeite.
A parte sólida denominada «baganha», era aproveitada na alimentação dos porcos.
O azeite era transportado para casa em barris de madeira utilizados especificamente para esse fim.
A PENHORA
Terminada a safra, o patrão, em sinal de agradecimento, dava uma festa convidando todo o pessoal para um jantar.
Era no decorrer desta festa, que o par escolhido entre o grupo dos trabalhadores, penhorava o patrão, oferecendo-lhe a mercearia que havia sido comprada com os donativos provenientes das penhoras efectuadas.
O jantar constava de: sopa de feijão seco com massa e batata ou arroz com carne.
A festa culminava sempre com um baile, onde toda a gente se divertia, estendendo-se o direito de participação às pessoas que se deslocavam para assistirem à mesma.
O baile terminava sempre com a canção da «Vassourinha», que era uma maneira delicada de mandar as pessoas embora e que era assim:
Tu és de palha e tens pau
Que eu inda ontem bem vi
Olha amor o que é mau
Tomá-ra-la tu para tiEstribilho
Linda vassoura, quando serás minha
Querido abano, vais passar a varredor
Varre, varre, querida vassourinha
Abana, abana, meu abanador
Abana, abana, abana e faz calor
Ó que par tão engraçado
Ir de noite à cozinha
Ver o abano dependurado
namorando a vassourinha
Estribilho
Trabalho realizado por:
Olinda Baptista
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