O chá dos Açores vai ser certificado pela União Europeia num processo que o governo regional pretende concluir até ao final deste ano para salvaguardar a “genuinidade” de um produto de características únicas na Europa. “A versão preliminar do caderno de especificações, que será apresentado no âmbito do pedido de atribuição da Denominação de Origem Protegida, está concluída, mas ainda será analisada por especialistas, produtores e historiadores para clarificar algumas questões”, revelou à Lusa o secretário regional da Agricultura e Florestas, Noé Rodrigues.
Toneladas de chá ..
Na ilha de S. Miguel estão localizadas as únicas fábricas e plantações de chá existentes na Europa, que produzem o chá Gorreana e o chá Porto Formoso. As primeiras sementes de chá chegaram aos Açores, vindas do Brasil, na segunda metade do século XVIII, mas durante muito tempo foi usado apenas como planta ornamental. A situação mudou em 1878, quando chegaram ao arquipélago, por iniciativa da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, dois chineses que vieram ensinar a transformação industrial do chá, gerando um interesse que se chegou a traduzir na existência de seis fábricas. Quase um século e meio depois, o governo regional e os produtores iniciaram há cerca de um ano o processo de certificação do chá açoriano, um processo moroso, que implica o levantamento de elementos históricos, sociais e económicos. “No decorrer deste ano teremos o trabalho concluído e, no final de 2009 ou início de 2010, vamos apresentá-lo à União Europeia para que seja aprovado”, afirmou Noé Rodrigues, acrescentando que o processo de aprovação demora geralmente “entre um a dois anos”. Noé Rodrigues explicou que o caderno de especificações estabelece o regime jurídico a que se vai submeter a ‘Denominação de Origem Protegida’, que incluirá vários parâmetros, como as características botânicas do produto, descrição do processo de produção, transformação e comercialização, além da história deste produto. O caderno de especificações fixa, por exemplo, a área geográfica de produção, refere o seu clima e relevo, aborda as doenças que podem afectar a cultura e a fiscalização da qualidade. “Trata-se de demarcar um produto genuíno”, frisou o secretário regional da Agricultura e Florestas, salientando que a certificação “abre portas” à exportação do chá açoriano para novos países. “A certificação permitirá uma nova estratégia para abordar os consumidores”, acrescentou. Noé Rodrigues considerou que o chá dos Açores “está valorizado nos mercados onde é colocado”, mas lamentou que a venda seja feita “sem nenhuma diferenciação”, apesar de ser uma “produção biológica, sem aditivos”. “Queremos afirmar, através deste processo, que o chá dos Açores é feito de um modo específico. Tem características muito próprias e exclusivas. Não se confunde com outros chás”, acentuou Noé Rodrigues. Hermano Mota, proprietário da fábrica de chá Gorreana, na costa Norte de S. Miguel, considerou que a certificação constitui “mais um contributo” para salvaguardar uma cultura tradicional nos Açores. A fábrica completou no ano passado 125 anos e, segundo disse à Lusa o seu proprietário, é “uma satisfação poder produzir chá nos Açores”, mantendo os métodos tradicionais. .......
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