O triste fado da aldeia foi ditado no início da década de 40 com a chegada de um novo rendeiro, que subia as rendas a seu bel-prazer. Valores que atingiram níveis quase impossíveis de suportar. Durante anos os habitantes "mataram-se" a trabalhar para pagar as rendas. Albino Carvalho recorda esses tempos sem saudade, mas lá vai dizendo que, embora as terras «fossem más», «uns lavravam, outros tinham cabras, outros tinham vacas», e a agricultura lá ia dando para viver e pagar aos rendeiros.
Revoltados com a situação, os habitantes do Colmeal recusaram-se a pagar e, como resultado, tiveram de travar uma longa batalha jurídica que de nada lhes valeu. O processo começou com a acção de despejo para o caseiro da casa dos Cabrais, acusado de deixar de pagar renda ao senhorio, mas anos depois os aldeões passaram à categoria de subarrendatários do mesmo e tratados de igual modo. Por altura das colheitas dois oficiais da justiça chegaram com a sentença final. Uma acção de despejo. Estava-se no dia 8 de Julho de 1957.
Aldeia do Colmeal
A GNR apresentou-se fortemente armada para o acto de despejo. Enquanto os aldeões tentavam a sua sorte nos montes sobranceiros à aldeia, as mulheres e as crianças refugiavam-se na igreja. Nada impediu as autoridades de rebentarem com as portas das casas e levarem os poucos haveres desta gente simples.
«Andavam em demanda há muito tempo», na opinião de Albino Carvalho. Designadamente, de Rosa Quirino Cunha e Silva que queria ser dona de todo o Colmeal. Tanto que o seu advogado, Manuel Vilhena, conseguiu "ajeitar" as leis e transformou a aldeia - anterior à nacionalidade portuguesa -, numa quinta.
A única coisa que Albino e a sua família conseguiram salvar foram «algumas roupas». Como não podia regressar ao Colmeal, a terra que o viu nascer, Albino teve de recomeçar do zero noutro lado. A escolha recaiu sobre Bizarril, a terra natal da sua esposa, e uma das anexas que serviu de refúgio às gentes da aldeia despojada. «Arrendámos esta casita», conta Albino, onde ainda hoje vivem os dois, o sustento era garantido pela agricultura. A profissão que sempre conheceram. «Tempos difíceis». As dificuldades arranjaram-lhe uma doença a que ele chama «velhice», e que não o deixa deslocar-se com a mesma energia de antes. Tem apenas 72 anos, mas anda encostado a um pau como se a vida o tivesse deixado. Com lágrimas nos olhos, lembra o filho que deixou lá enterrado. «Disseram-me que o cemitério está num estado lastimável, que arrancaram as pedras», conta. Assim como lamenta que o actual proprietário «tenha vendido todos os santos da igreja, segundo me disseram, a um senhor de Trancoso».
Maria Matilde não nasceu naquela aldeia, mas foi lá crismada, e lembra-se bem da festa de S.Miguel. «Era uma grande festa. Toda a gente das aldeias vizinhas se deslocava ao Colmeal». Maria Matilde não fugiu à regra «e quase todos os anos ia à festa». Esta mulher natural de Bizarril não está de acordo com o que aconteceu aos habitantes da aldeia vizinha. «Aquilo não se fazia», afirma em tom revoltado. «Ainda me lembro que se via um guarda com uma metralhadora, além no cimo do monte». E reforça, «aquilo não se fazia»...
Gabriela Marujo
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