A rede era, assim, lançada de acordo com os sinais de terra e mar, a cerca de 300 braças da praia e ocupando uma extensão de cerca de 200 metros de largura. Cada lance tinha a duração de hora e meia para a permanência da rede na água, e meia hora para a alagem (puxar a rede). Até meados do século XX, logo que «as artes eram postas na água», o cabo de mar içava na lota uma bandeira alaranjada. Acabado esse período, a bandeira era arriada, assinalando o início ao alar das redes. Esta forma de aviso deixou de ser praticada com a vulgarização do relógio. Na borda d’água, estavam os camaradas de terra, para o alar da rede. Com um ritual próprio, lento e cadenciado, dois “cordões humanos” puxam as cordas dos dois lados – mão esquerda agarrada à corda junto ao pescoço, braço direito estendido. É este o ritual que, nos dias de hoje, seduz o visitante e o leva a participar, puxando também ele a rede. Noutros tempos, quando a pesca era sustento de muitas famílias, a chegada do saco a terra era saudada com entusiasmo, se vinha cheio (“aboiado”), ou com tristeza, se vinha vazio (“estremado”). O peixe era posteriormente tirado para os xalavares (tipo de cesto) que, por sua vez, eram transportados para a lota, a fim de se proceder à sua venda. Actualmente, a lota de praia é também recriada, com a licitação do peixe feita com o tradicional “chui” – sinal que o peixe foi arrematado pela melhor oferta.
A distribuição do “quinhão”
No passado, uma certa quantidade de peixe não ia para a lota. Destinavam-se os quinhões de peixe aos camaradas da companha, aos “ajudas” do alar das redes e aos “caldeireiros”. De oito em oito dias, acertavam-se as “contas” (em dinheiro). Segundo a norma, do produto da venda do pescado (“monte maior”), retiravam-se as despesas (impostos à Lota, à Mútua dos Pescadores, Guarda Fiscal, Alfândega e Câmara Municipal; e as despesas relativas à arte, como o boieiro, matrícula e a taberna). Do produto líquido, uma terça parte era para o barco e os restantes dois terços para a companha. O quinhão atribuído a cada homem obedecia a um complexo cálculo, sendo o quinhão do arrais superior aos dos restantes camaradas.
1) Baseado no estudo “O Lance de Arte Xávega”, realizado pelo Museu Dr. Joaquim Manso (1993)