“FAZ DE CONTA - Globalizações”
“Num artigo publicado ontem e chamado « Ser de esquerda , hoje “, Mário Soares conclui que « a primeira e mais importante obrigação de uma esquerda moderna é redefinir-se , sem ambiguidades , perante a globalização que temos , a que alguns politólogos chamam desregulada , outros selvagem e outros ainda depradadora » .
Soares quer uma « globalização ética » , evidentemente fundada numa cidadania «global», que , segundo ele , a Internet tornou possível . Mário Soares sempre foi um optimista e não vê qualquer dificuldade neste projecto absurdo . Mas representa uma certa militância utópica , que vomita a «terceira via». Gostaria , por isso , de lhe fazer três perguntas . Começo pela mais simples : quem vai estabelecer e garantir a ética da « globalização »? Uma entidade supranacional , com poderes de ingerência em qualquer Estado do mundo , incluindo a América ? Estará ele ingenuamente a pensar na ONU ? E, se não está , em que está a pensar : nos manifestantes de Sevilha ? , num consórcio de nações virtuosas ? Basta um bocadinho de bom senso para constatar o irrealismo ( e o sentimentalismo ) desta ideia , que tanto entusiasma os náufragos da esquerda . A segunda pergunta a fazer ao dr. Soares , que ele infelizmente não parece ter previsto , é a seguinte : quem vai determinar a «ética» da «globalização» ? Julga ele que essa ética não põe a sombra de uma dúvida ? Imagina que a «ética» do «socialismo » chega ? Ou tenciona convocar um grupo de sábios para decidir a coisa ? Convinha que ele explicasse . E, finalmente , uma terceira pergunta : sabe o dr.º Soares que percentagem da população da terra tem acesso à Internet ? Um conselho , sr. Presidente : o antiamericanismo leva a tudo . Mesmo ao pior “.
DN 4 Agosto 2002