Sexta-feira, 25 de Março de 2011
Depois das causas, a análise sumária da situação:
- Foi Sócrates que provocou esta crise políticacom a negociação secreta do novo PEC com Bruxelas, documento que apresentou sem informação nem consulta à Assembleia da República e ao Presidente da República, com o aviso de que não governaria com o inevitável FMI, e com ameaças de demissão se os partidos não lhe aprovassem o que nem souberam.
- Sem financiamento possível, Sócrates foge à responsabilidade de pedir socorro financeiro. Apresenta, com urgência, o PEC no Parlamento, sabendo que as oposições iriam votar resoluções contrárias ao documento. O que se comprometeu em Berlim (com Merkel) e em Bruxelas, nas costas dos partidos, do Presidente da República e dos parceiros sociais, já não pode cumprir.
- Jurando o diálogo até ao fim, Sócrates, que não emenda o documento para satisfazer as objecções dos partidos, nem sequer apresenta o PEC, na tarde de 23-3-2011, vira as costas aos deputados e abandona a Assembleia, no final do discurso de Teixeira dos Santos, que, por seu turno também se ausenta durante o discurso de Manuela Ferreira Leite. Trata-se de atitudes inéditas de desprezo, que seriam punidas pelos britânicos, alemães, franceses ou espanhóis, com o ostracismo político. Veremos como o povo português as toleram.
- Sócrates apresenta o pedido de demissão do Governo ao Presidente da Repúblicae lê, nos telepontos da esquerda e da direita - como habitualmente para simular discurso de cor - um discurso previamente preparado em que, em contraste com a sua fuga à responsabilidade de garantir financimaneto para as despesas do Estado e à assunção de responsabilidades perante o Parlamento, diz que concorre às próximas eleições...
- O Presidente da República (chapeau!) não aceita imediatamente a demissão do Governo, como Sócrates julgava e obriga-o a ir ao Conselho Europeu, de 24-25 de Março de 2011, na plenitude das suas funções, num momento em que a taxa de juro das obrigações do tesouro português a cinco anos, ultrapassou o limiar proibitivo de 8,5% (chegou a 8,51%, na manhã de hoje, 24-3-2011). O Presidente só iniciará os contactos com os partidos, na sexta-feira, após a cimeira europeia, e, mantendo-se a posição destes, nada mais restará do que convocar o Conselho de Estado e convocar eleições antecipadas. A situação do País não consente demora, mas os procedimentos necessários atiram as eleições para o final de Maio - é preferível não as realizar em Junho.
Publicado por António Balbino Caldeira em 3:01:00 PM