O populismo é geralmente mau conselheiro em momentos de crise. E o ataque cerrado a todos os que ganham mais como se aí estivesse a origem de todas as desgraças é apenas um dos seus mais generalizados sintomas.
Contudo, a aliança entre PS e PSD, contra qualquer iniciativa parlamentar para introduzir limites de razoabilidade à remuneração de gestores públicos, não pode ser vista como saudável recusa liminar do populismo. É, tão só, o reflexo de como os dois partidos do “centrão”estão literalmente reféns da sua rede clientelar.
Argumentar com a necessidade de “atrair os melhores num mercado concorrencial” quando se trata, sobretudo e /ou quase sempre, de remunerar boys recrutados para gerir empresas que agem em monopólio (ou quase!), ou simplesmente se afundam em prejuízos, não é mais do que tentar tapar o sol com a peneira….
E se o argumento vale para as empresas, como não aplicá-lo aos gestores da própria administração? Todos eles forçados a cortes radicais dos respectivos salários.
Se dúvidas existissem sobre a bondade da argumentação ela ficou, ontem, bem à vista em mais um exemplo do descalabro de gestão do sector empresarial do Estado. Ficámos a saber pela Comunicação Social que na Rede Eléctrica Nacional, uma das tais empresas públicas a reclamar excelência de gestão, foram nos últimos tempos “contratados” oito novos directores. Alguns já este mês e com remuneração superior à do presidente da República. Pagos com os nossos impostos. Ao mesmo tempo que os trabalhadores, que denunciavam a situação, reduziram os seus salários.
Os mercados também sabem estas pequenas histórias e sabem que, neste momento, o que se impunha era uma solução à espanhola com uma drástica redução dos quadros dirigentes no sector público e respectivas remunerações.