Sábado, 29 de Janeiro de 2011

O FURÚNCULO DA SOCIEDADE

26 de Novembro, 2010Por José António Saraiva

 

Maria João Avillez, em entrevista ao SOL, afirmou cruamente que os partidos são «o furúnculo desta sociedade».

Ainda que a palavra seja dura e a ideia possa provocar repulsa, é impossível não lhe reconhecer alguma verdade.

O tema foi durante muito tempo tabu pela simples razão de que, tendo o 25 de Abril legalizado os partidos depois de 48 anos de ditadura, pôr em causa os partidos era, de certo modo, pôr em causa a democracia - e desculpar Salazar e a ditadura.

Era como se, com 40 anos de atraso, viéssemos dizer: Salazar estava afinal cheio de razão quando aboliu os partidos.

Mas o certo é que, cada vez com menos vergonha, os cidadãos começam a questionar as virtudes dos partidos políticos e a atribuir-lhes boa parte da responsabilidade na situação a que Portugal chegou.

Os mais letrados ainda dizem que os partidos são maus, mas são um mal necessário; porém muitos outros não têm pejo em dizer que os partidos não fazem falta nenhuma e podiam perfeitamente acabar.

Esta apreciação negativa dos partidos políticos não é um exclusivo português nem diz respeito a este tempo histórico.

No final da Monarquia, sobretudo a partir das cisões verificadas nos dois grandes partidos da segunda metade do século XIX - o Partido Progressista e o Partido Regenerador -, as lutas fratricidas entre os partidos monárquicos apressaram o fim do regime.

Depois, durante a I República, foi o que se sabe: a acção do Partido Democrático de Afonso Costa, actuando de modo sempre sectário, arbitrário e mesmo ditatorial, foi um dos motivos do divórcio litigioso entre os cidadãos e a República.

O Partido Democrático era detestado por quase todos - e muitos dos que o defendiam faziam-no de forma arrogante, agressiva e às vezes arruaceira, atropelando os direitos dos adversários.

Assim, quando os militares apareceram e suspenderam os partidos políticos, e quando, mais tarde, Salazar confirmou essa proibição (consagrando-a na Constituição de 1933), pouca gente viu nisso um mal.

Pelo contrário.

Estes 48 anos, entretanto, fizeram esquecer muita coisa - e o regresso dos partidos foi saudado com expectativa.

Acreditava-se, ingenuamente, que eles nos trariam uma vida melhor e aproximariam a política dos cidadãos.

Mas o tempo passou e muita gente começa a descrer.

Dois ex-líderes partidários - que não nomeio para não terem dissabores - disseram-me que, nas reuniões com os militantes pelo país fora, a única coisa com que estes se preocupavam era com os lugares.

Não queriam saber de políticas, nem de estratégias, nem de interesse nacional, nem de nada: só queriam saber de lugares.

Já outros sentiram este problema no passado.

Vítor Constâncio e Cavaco Silva, por exemplo

om menos vergonha, os cidadãos começam a questionar as virtudes dos partidos políticos e a atribuir-lhes boa parte da responsabilidade na situação a que Portugal chegou.

Os mais letrados ainda dizem que os partidos são maus, mas são um mal necessário; porém muitos outros não têm pejo em dizer que os partidos não fazem falta nenhuma e podiam perfeitamente acabar.

Esta apreciação negativa dos partidos políticos não é um exclusivo português nem diz respeito a este tempo histórico.

No final da Monarquia, sobretudo a partir das cisões verificadas nos dois grandes partidos da segunda metade do século XIX - o Partido Progressista e o Partido Regenerador -, as lutas fratricidas entre os partidos monárquicos apressaram o fim do regime.

Depois, durante a I República, foi o que se sabe: a acção do Partido Democrático de Afonso Costa, actuando de modo sempre sectário, arbitrário e mesmo ditatorial, foi um dos motivos do divórcio litigioso entre os cidadãos e a República.

O Partido D

publicado por luzdequeijas às 21:48
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