Como observam os economistas, a capacidade de criar organizações depende de instituições como os direitos de propriedade, de contrato, e de um sistema de leis comerciais. Mas depende, mais ainda, de um sentido anterior de comunidade moral, isto é, um conjunto, não escrito, de regras ou normas morais que serve de base à confiança social.
São estas regras que os nossos homens Estado parecem não saber, ou não querer, ler.
Há muito quem clame pela defesa da auto-estima nacional, pela sua criatividade, pela inovação ou até mesmo pela produtividade. Também se ouvem, a miúdo, afirmações impregnadas de preocupação, de gente proeminente da nossa praça, relativamente à qualidade da nossa democracia. É de enaltecer e registar. São evidentes esses muitos gritos de alarme lançados por gente conhecida. Referem-se eles a todos os domínios da nossa sociedade, à vida económica, cultural, religiosa, desportiva, política etc.
Há também quem chame a tais gritos, lamúrias ou “bota-abaixismo”. Mais parece, isso sim, que tantas lamúrias mais não são que gritos de revolta contra tantas incúrias. Todos os indicadores que nos chegam de instituições altamente credíveis, a nível mundial, colocando Portugal em lugares altamente desonrosos, são prova disso mesmo. Todas as sondagens feitas em Portugal e nunca desmentidas, ou sequer postas em causa, indiciam que a confiança política dos portugueses nos políticos e nos partidos e na própria sociedade civil, está perigosamente próxima do zero.
Relembremos, aqui, o modo desassombrado como Tony Blair se dirigiu ao Partido Trabalhista britânico na conferência anual de 1997: serão as suas palavras simples lamúrias?
“Não peço desculpas. Sou partidário da “tolerância zero”. Sou a favor da tomada de medidas destinadas a enfrentar os vizinhos anti-sociais; a fazer com que os pais se tornem responsáveis pelos filhos; a corrigir o sistema judicial juvenil de modo a que os jovens deixem de pensar que podem praticar crimes e continuar a agir como criminosos (.... ). Àqueles que dizem que se trata de uma ameaça às nossas liberdades e garantias, digo, que essas ameaças residem no facto de as mulheres terem medo de sair à rua e os reformados terem medo de ficar nas suas casas por causa da criminalidade (... ). E não podemos dizer que queremos uma sociedade forte e segura quando ignoramos os seus próprios fundamentos: a vida familiar. Não se trata de fazer sermões às pessoas sobre a sua vida íntima; trata-se sim, de enfrentar um enorme problema social. Os comportamentos mudaram. O mundo mudou. Mas eu sou um homem moderno, governo um país moderno, e isto é uma crise moderna. Quase 100.000 adolescentes engravidam todos os anos. Há idosos cujas famílias não se dispõem a tomá-los a seu cargo. Há crianças que crescem sem referências ou modelos que possam respeitar e dos quais possam retirar ensinamentos. Há mais pobreza, e é mais profunda. Há mais absentismo escolar. Mais desprezo pelas oportunidades de educação. E sobretudo mais infelicidade. São essas infelicidades que temos de mudar. O que vos posso garantir é que todas as áreas da política deste governo serão dissecadas para avaliar de que forma afectam a vida familiar.”
Quando fala assim estará o primeiro-ministro inglês a destruir a auto-estima dos súbditos de sua majestade? Ou estará a clamar por uma mudança que tem de ser de todos, mas muito principalmente dos políticos e altos responsáveis do País?
Só com um retorno à transparência a todos os níveis no nosso País, que tem de começar pelos políticos e pela política., será possível motivar o cidadão anónimo para um desempenho cívico de boa craveira.
António Reis Luz
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