Orçamento mau, injusto, mas necessário
Se nada mudar na proposta de Orçamento do PS para o próximo ano, os pensionistas pobres irão sofrer o maior corte de poder de compra das últimas décadas. Os funcionários públicos suportarão um corte dos salários entre três e 10%. A classe média será alvo de um autêntico esbulho fiscal pela via, directa e indirecta, do aumento dos impostos e da redução das deduções. O desemprego continuará a subir.
Ninguém ficará de fora do esforço de contenção das contas públicas, mas é falso que todos sejam chamados a pagar de forma igual. Pelo contrário, serão mais uma vez os trabalhadores por conta de outrem e os chamados remediados a pagar a factura.
Quem poupou a vida toda será tratado como quem se endividou e gastou à tripa-forra. O saque fiscal é cego. Vai-se a tudo o que possa gerar receita. Mas, enquanto se calcula ao cêntimo as verbas esperadas com a factura imposta às famílias, deixa-se prudentemente em branco a verba esperada com o novo imposto sobre a banca. Será que vai render alguma coisa?
Mesmo injusto, este é, infelizmente, um Orçamento necessário e é impossível avaliar o risco internacional associado à sua possível recusa parlamentar. Para o equilíbrio das contas públicas não se opta por um corte na despesa de 77% (e um aumento da receita de apenas 23%!) como se fez em Inglaterra. Mas aí, onde os cortes serão brutais e 42 mil funcionários públicos irão ser despedidos, o Governo minoritário de Cameron procurou legitimar as medidas formando previamente um Governo de coligação com os parceiros liberais. Coisa rara em Inglaterra.
Por cá, não se exige tanto. Apenas que o bom senso prevaleça na mesa de negociação. Embora os cabelos brancos de Catroga pareçam uma garantia, não é certo que se consiga evitar o péssimo: a recusa liminar de um Orçamento MAU!
Graça Franco