O presidente da junta de freguesia de Soajo, no Parque Nacional Peneda-Gerês, faz contas aos estragos provocados por um dos maiores incêndios do ano, mas tem pouca esperança nas ajudas do Estado.
Manuel Barreira da Costa recorda que os apoios prometidos no passado nunca chegaram aos agricultores e pastores de Soajo.
“Desta vez o Ministério da Agricultura da Região de Entre Douro e Minho mandou-me fazer um levantamento com esperanças de eles receberem alguma coisa. Nós já não acreditamos, com certeza que os agricultores vão dizer a mesma coisa, porque nós somos uma região esquecida pelos senhores que vivem no Terreiro do Paço”, afirma o autarca.
Manuel Barreira da Costa descreve um cenário negro provocado pela passagem das chamas pela região. “Nesta altura aqui não há paisagens. Soajo está de luto, só se vê um manto preto à volta do Soajo. Pelos nossos cálculos, arderam até 80% dos baldios de Soajo”, afirma.
O autarca olha para as perdas e pensa no prejuízo para os agricultores: “Ardeu pastorícia, arderam os montes de pastagem na serra, arderam terrenos agrícolas, vinhas, fruteiras, ardeu tudo. Para algumas pessoas foi uma perda total, além de arderem os pastos e os estábulos”.
Criadores de gado, como António Cerqueira, têm até dificuldade em inventariar em voz alta as perdas: “Os pastos privados arderam todos, incluído os pastos que já estavam colhidos – os fenos -, palheiros, ardeu tudo”, lamenta António Cerqueira.
Custos de produção vão aumentar
O impacto dos incêndios na agricultura e nas pastagens vai aumentar muito os custos da produção animal, avisa a Federação Portuguesa das Associações de Bovinicultores (FPAB).
O presidente da FPAB, Pedro Espadinha, diz que o impacto dos incêndios “é enorme” e fala mesmo em situação calamitosa.
Pedro Espadinha admite a possibilidade de pedirem ajuda ao Governo, recorrendo aos fundos de calamidade.
O Estado deveria proibir o pastoreio nas áreas ardidas durante alguns anos, recomenda a Federação de Agricultura de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Armando Pacheco, membro da direcção, diz que esta é uma medida importante para por fim a esta forma de renovar as pastagens.
Este responsável defende ainda a necessidade da aprovação das zonas de intervenção florestal.