O Miguel Morgado relembra, e bem, todos aqueles que, do alto do seu estatuto académico e profissional, deliberadamente se prestaram a servir a tese de que o investimento público em tempo de crise é a receita ideal para sair da dita. Que a disparatada tese seria negada pela força da realidade, já se sabia. O que não se esperava era que a coisa fosse reconhecida pelo Governo em pleno Diário da República.
Fica por isso a descoberto o papel de todos aqueles que emprestaram a sua credibilidade para alimentar um logro. Um logro de consequências económicas nefastas e que teve implicações políticas. Sendo de esperar o ar de espanto com que alguns em público aparecerão, como se nada fosse, seria bom que se lhes recordasse o estatuto que envergam e de que não devem fugir: cúmplices. E se do Governo se espera que doure a pílula da sua triste governação, disfarçando a mentira com a treta da confiança, já desses cúmplices se esperava que o brio profissional os impedisse de credibilizar e alimentar o que era visivelmente um disparate.
Seria aliás interessante que se analisasse o papel desses e de outros cúmplices na sobrevivência deste Governo. Tem sido a sua cumplicidade, complacência e cooperação que tem permitido ao Governo ostentar qualquer coisa de vagamente técnico. Sem eles, o logro já teria sido desmascarado há mais tempo. Sem eles, o país teria poupado muito tempo e dinheiro.