0:00 Sexta feira, 30 de Julho de 2010
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O INE publicou números sobre o risco de pobreza e desigualdades, no exato dia do debate do Estado da Nação.
Feliz coincidência.
O primeiro-ministro dispôs assim da oportunidade para, numa situação complexa, anunciar que Portugal alcançou a mais baixa taxa de pobreza de sempre (dados de 2008).
Divulgou-se ainda que as estatísticas oficiais de 2009 provam que as desigualdades de rendimentos se reduziram entre os mais ricos e os mais pobres.
Com base nestes valores, afirmou-se que "Portugal pode orgulhar-se do caminho que está a fazer... na coesão social e na igualdade de oportunidades".
O orgulho teria fundamento se a situação resultasse de um crescimento económico que tivesse potenciado a integração das pessoas na sociedade, ou se a distribuição do rendimento tivesse sido mais proporcional ao contributo de cada um para a criação da riqueza nacional.
Mas sabe-se que estes valores resultam fundamentalmente do rendimento social de inserção. As pessoas continuam pobres, mas são ajudadas, o que, numa fase de restrições e de dúvidas sobre a sustentabilidade do Estado social, não é tranquilizador.
Por isso, estas estatísticas não são para cantar vitória, mas para agravar a preocupação sobre o modo como manter esta ficção.
Texto publicado na edição do Expresso de 24 de julho de 2010
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