Sócrates apareceu nas televisões para dizer que a "verdade vem sempre ao de cima". Bela frase, sem dúvida, embora deslocada no país em questão. Entre nós, os processos judiciais nunca apuram ‘verdades’. Eles começam com dúvidas e terminam com outras dúvidas. Os brasileiros têm uma palavra para isto: pizza.
De facto. Uma pizza é o que um homem quiser. Tal como o processo Freeport. De um lado, adianta-se que não houve ilícito no licenciamento do mostrengo nem outros crimes (corrupção, tráfico de influências, etc.). Mas, no dia seguinte à nota do Ministério Público, são os próprios procuradores da casa a colocar a ampulheta ao contrário: queriam ter ouvido Sócrates, não conseguiram; queriam mais tempo, não tiveram; e não conseguiram nem tiveram porque a Procuradoria-Geral da República não deixou. Por outras palavras: a justiça portuguesa iliba e levanta dúvidas; diz que está tudo bem e garante que não está tudo bem; fecha casos e reabre casos. E os portugueses? Os portugueses comem esta pizza indigesta e rezam para que a justiça nunca se lembre de lhes deitar as mãos.
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