Neste aspecto, podia dizer-se que Sócrates era o ‘Cavaco do PS’: não se perdia em negociações e compromissos, decidia rapidamente, cortava a direito sem olhar a quem, não recuava perante as manifestações de protesto.
E os anos iniciais como primeiro-ministro confirmaram esta impressão, mostrando um governante decidido, que não se intimidava com as ameaças, as manifestações ou as greves.
E os seus ministros seguiam-no.
O ministro da Saúde, Correia de Campos, encerrava maternidades e mandava as grávidas ter os filhos em Badajoz; o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, dizia «jamais» à mudança da localização do aeroporto para a Margem Sul; a ministra da Educação, Lurdes Rodrigues, avançava com a avaliação dos professores contra toda a classe.
Esta era a forma de governar que se esperava, fazendo recordar – repito – os tempos do cavaquismo.
Correia de Campos era uma réplica de Leonor Beleza, Mário Lino era uma réplica de Ferreira do Amaral, Lurdes Rodrigues era uma réplica de Manuela Ferreira Leite.
Só que o PS, apesar de estar rendido a Sócrates, não era uma réplica do PSD.
Sócrates ainda disse que não recuaria nas reformas de que o país necessitava, mesmo que isso significasse perder as eleições.
Mas, como se viu, tal não passava de palavras.
Depois de um período inicial de firmeza, o edifício passou a tremer: quando as eleições legislativas se perfilaram no horizonte, os socialistas começaram a recear que a teimosia do primeiro-ministro conduzisse mesmo a um mau resultado eleitoral.
E sugeriram a Sócrates que assumisse uma atitude mais flexível.
O primeiro recuo foi na Saúde – com o sacrifício do irascível Correia de Campos, substituído pela mais maleável Ana Jorge.
O segundo foi na Ota – com Mário Lino a dar o dito por não dito.
O terceiro foi na avaliação dos professores – com Lurdes Rodrigues a admitir rever o critério.
O quarto foi no TGV – com Mário Lino (de novo ele) a aceitar uma reavaliação do projecto.
E assim sucessivamente.
Deste modo, o principal trunfo de Sócrates – a firmeza – foi esmorecendo aos poucos.
E, com a perda da maioria absoluta, foi por água abaixo.
Sucede que os homens rígidos não sabem negociar: quando começam a recuar, perdem o rumo.
Ora foi isso que sucedeu a Sócrates – e, por extensão, ao seu Governo.
O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, começou a dizer uma coisa e o primeiro-ministro a dizer outra.
A ministra da Saúde, Ana Jorge, avançou com medidas que a seguir retirou.
A ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, tomou decisões que anulou no dia seguinte.
O ministro das Obras Públicas, António Mendonça, já não sabe o que fazer.
JAS - SOL
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