HEDOISMO INDIVIDUALISTA
Na última crónica falei da falta de governança. Mas esse não é o único mal. A cultura hedonista, individualista e consumista, impregnada até à alma na sociedade, também constitui um mal que mina, de forma irreparável, os seus alicerces. O hedonismo individualista que busca o prazer material e físico como único bem que faz sentido na vida tem vindo a transformar a Europa (não fugindo Portugal à regra) num verdadeiro caos. O que temos é uma Europa do caos e não da ordem.
Nenhum país se salva se estiver somente estruturado e organizado numa lógica mais virada para o ter do que para o ser. Esta atitude ante a vida, que respeita a materialidade e questiona o espírito e a ética de valores, vai condenar-nos a uma morte mais pobre e miserável. Morremos atolados até ao pescoço de bens e de prazer individual e, com esta alquimia desastrada, liquidamos um quadro de referências morais, espirituais e de valores centrados na dignidade do homem.
A proposta que a democracia capitalista nos faz, de abandono dos valores tradicionais, fazendo a defesa de um neoliberalismo exacerbado, assente na omnipotência mágica do mercado, é a grande responsável pela crise financeira que o mundo está a viver. Ninguém duvida de que se salva o planeta com desenvolvimento, com progresso, com uma cultura empresarial forte e agressiva e com competitividade. Mas esta é uma salvação de curto prazo se não for acompanhada por políticas mais justas, mais equitativas e solidárias. A salvação de longo prazo, com fundações seguras, só se alcança com justiça, com igualdade e com políticas que acabem, como diria Joseph Schumpeter, com "uma geração de individualistas vorazes, de sanguessugas carregadinhos de direitos e insensíveis ao apelo de qualquer dever moral porque não são uma garantia de paz e ordem, mas um barril de pólvora pronto a explodir numa irrupção caótica de exigências impossíveis".
A visão individualista do pensamento hedonista, que marca todo o sistema capitalista, destrói o próprio capitalismo. Esta nova mentalidade modernista, que drena até ao esgotamento os recursos do sistema, não traz paz. Fomenta a guerra.
Ninguém pode ser feliz sozinho diante de graves injustiças e misérias humanas. Cada vez mais dedicamos menos atenção a estes assuntos que são os mais importantes da vida. O silêncio, aqui, tem um "ruído" que nos envergonha. A lógica de que é "proibido proibir" vai-nos levar para o abismo.
E aqui, a comunicação social, que podia ter um papel decisivo, também não tem ajudado. Dá sempre muito eco a esta cultura do ter. Os interesses colectivos da comunidade, o seu bem-estar, devem estar acima dos inconfessáveis interesses individuais, da ganância e do egoísmo. A apologia do hedonismo cego, que dificulta a gradual inserção dos valores no nosso quotidiano e impede a compreensão do outro e a miséria humana, faz-me lembrar a teoria do sapo: se o puser numa panela com água quente ele salta, mas se for aquecendo lentamente ele fica lá parado e, quando perceber, morreu.
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