Rafael Bordalo Pinheiro, vai a caminho de dois séculos, sentiu absoluta necessidade de criar uma “figura” bem representativa do português comum, o povo. Ficou tal figura conhecida até aos nossos dias por “ Zé Povinho “. De calças remendadas e botas rotas, é a eterna vítima dos partidos, apesar de ir dando a vitória ora a um, ora a outro. O sucesso obtido foi tão grande, que Bordalo acabou por recriar no barro, em tinteiros, cinzeiros e apitos, a figura símbolo do povo português, lado a lado com a inseparável Maria da Paciência, velha alfacinha alcoviteira.
Desde então é o “Zé Povinho” que, motivado única e simplesmente pelo interesse comunitário, trabalha em prol das suas actividades, sejam elas religiosas, profanas ou culturais. É o Zé Povinho que sem estudos e diplomas, (não existiam as Novas oportunidades! ), após um dia de trabalho árduo vai à igreja e ao clube para reunir, planear e organizar procissões e festas etc. Salvo as festas e os passeios organizados pelas câmaras e Juntas de Freguesia com o dinheirinho do povo, claro do mesmo ZÉ Povinho.
Entretanto vai-nos dizendo: "Aguento como posso, e quando as coisas me irritam, encho-me de força, de tal forma que já me quiseram chamar Maria da Fonte. Mas eu acho que sou apenas eu - "O POVO".
Após o 25 de Abril ajustou-se, mantendo velhos hábitos, permitindo que novas injustiças e novas albardas surgissem cobertas com um fino verniz da democracia.
Hoje, o Zé Povinho é menos analfabeto, mas perdeu algumas qualidades estimáveis como a simplicidade e a naturalidade de outrora, bem como algumas raízes culturais importantes, adquirindo novos costumes pouco recomendáveis..... mas enche páginas na Internet. Por lá o ficámos a conhecer melhor e por lá o pudemos divulgar. Representa do povo aquilo que ele tem de pior e só isso. A mentira, a denuncia, a traição, o oportunismo etc., etc. É o lado mais negro do simpático “ Zé Povinho “ , ou seja o lendário “ Joio “ que nas bíblicas parábolas, vive lado a lado com o trigo . Ninguém nos pode explicar a existência maligna desta erva daninha, só que também o símbolo representativo e muito simpático do português, o tem ! O nosso famoso Zé Povinho não poderia deixar de o ter, pois claro, o “ Bem e o Mal”. Sem tirar nem pôr !
António Reis Luz