30/03/
Nonagésimo Aniversário da Partida
30 de Março de 1922
Uma manhã meio farrusca e o «Lusitânia» pronto a levantar voo diante da Doca de Pedrouços, então afeta à Aviação Naval.
O hidroavião, cuidadosamente selecionado o fabricante, foi um Fairey, especialmente adaptado para a Travessia, com uma envergadura maior do que a dos convencionais (que se lhe seguiram) de modo a melhorar a sua sustentação e assim se reduzir o consumo e aumentar a carga (combustível) e mesmo assim a sua adopção, por não cumprir nos testes de voo os requisitos contractuais, deveu-se ao imperativo das datas e a um recálculo optimista da viagem entre a Praia (Cabo Verde) e Fernando Noronha (Brasil)
Mesmo assim tiveram de desembarcar o Rádio, para assegurar mais uns quilos de combustível? quando à última da hora receberam do camarada e amigo, Santos Moreira, uma máquina fotográfica e uma garrafa de Vinho do Porto que deveria ser entregue no Rio de Janeiro e que, apesar de tudo, ? foi.
De duas cartas, uma a de Sacadura Cabral a este, também Aviador Naval, retiramos, datada de «Penedo S. Pedro 7-5-22? O aparelho faltou ao que prometera? levantar 18 horas de combustível e consumir 18 galões por hora. Em Las Palmas fiquei desconfiado disso? |mas decidi| correr a chance de encontrar no Pendo um mar de rosas. ?Noblesse oblige?? |mas| encontrei um ?mar e ? peras?? levou-me um dos flutuadores como se fosse de vidro?|e| A amaragem ia boa? nem um pingo de água apanhámos? O Bagé chegou com outro Fairey |convencional|?».
Da outra, de «Fern. Noronha 27 Maio? no final nem podia voar a seguir doze horas? não me chega o tempo para responder devidamente às centenas de cartas que recebi?» assinada por Gago Coutinho e enviada ao mesmo.
Note-se que não se põe em causa o encontrar os Penedos!
O ensaio no ano anterior, no Raid à Madeira, tinha provado a eficiência do Sistema de Navegação Astronómica Aérea desenvolvido por Gago Coutinho.
Recordemos, como nos assinala o nosso Amigo Cte Ferreira da Silva, que o 1º tenente Read (USA), quatro anos antes tentara atravessar o Atlântico Norte ? da Terra Nova a Plymouth, passando pelos Açores e Lisboa ? com três aviões bimotores, cada um com cinco homens, mas em que só um alcançou Lisboa.
Substancialmente diferente foi a sua Navegação que teve o apoio de 35 navios de guerra da USNavy, (balizadores; 21 colocados entre Terra Nova e Açores e 14 entre os Açores e Lisboa), cerca de 100 milhas entre cada um, e mesmo com tal balizagem dois aviões se perderam na? orientação.
Foi nesse encontro em Lisboa que Sacadura Cabral se lembrou de Gago Coutinho, o seu antigo chefe na demarcação geodésica de fronteiras em Moçambique, e lhe propôs a pesquisa dum método autónomo de Navegação Aérea.
Funcionou em pleno a mútua confiança nas respetivas competências e, da avaliada solidez dos seus caracteres, a forte amizade que os unia e de que o Almirante de Armada deu provas de fidelidade até falecer.
Foi assim que pegando no sextante de nível artificial de bolha o redesenhou para encontrar uma imagem virtual que tornasse fixa, apesar das oscilações dos aviões da época, a linha do horizonte? referência para se ler as Alturas dos astros a observar.
Vencida esta etapa de estudo de Óptica Aplicada, havia que melhorar a rapidez dos Cálculos Astronómicos dada a velocidade dos aviões que era, então, de cerca de 70 nós (c. 126 Km/h!). Assim desenvolveu um pré-cálculo que permitia em minutos obter a posição astronómica da aeronave.
Não foi tudo! Com Sacadura Cabral desenvolveu um Corrector de Rumos a prevenir ventos laterais.
Se considerarmos um hidroavião de madeira, forrado de lona, apenas com o motor, um RR ( Rolls-Royce Eagle) de 350 cavalos com uma ?pele? de metal, é legítimo que se fale de coragem e de valentia desde que se não esqueça à partida a Investigação Científica e o Desenvolvimento Tecnológico envolvidos porquanto partiram cientes mais do seu ?trabalho de casa? do que da máquina que não cumpriu.
A Viagem acabou por testar a precisão do conjunto de soluções, por isso a designação de Sistema de Navegação Aérea Astronómica, e o êxito da Viagem no Brasil, conforme o Espólio da sua ?afilhada? brasileira, Maria Elisa Ramalho Ortigão, depositado na Sociedade de Geografia de Lisboa atesta, foi de verdadeira loucura.
A Imprensa nacional da época registou o sucesso também com assinalável relevo em Portugal e em diversas capitais europeias onde foram aclamados pelo seu feito.
Só em Outubro de 1945, quase 25 anos depois, é que a «American Export Airlines» se tornou a primeira linha aérea a oferecer voos comerciais regulares entre a América do Norte e a Europa. Imperativamente usou o Sistema de Navegação de Gago Coutinho, como os Americanos o terão usado nos raids que do Alasca atingiram o Japão.
Mais interessante é que o Sistema só foi ultrapassado c.1972, pela Navegação por Inércia (1.º voo em 1927) sendo utilizado sobre os Oceanos e sobre alguns Continentes.
A TAP usava-o sobre o Atlântico e na travessia da África, entre Angola e Moçambique, nos quadri-reactores Boeing 707 (1010 Km/h). Presume-se que fosse utilizado no sobrevoo da Sibéria .
Os Americanos e os Ingleses adaptaram?no, durante a II GG, para as suas Marinhas de Guerra. Em Portugal foi introduzido, em 1960, na Escola Naval e na Escola Náutica pelo, então, Cte Pinheiro de Azevedo, com a designação de Traçado Rápido de Rectas de Altura.
No monumento em Belém refere-se que a viagem foi completada por três aviões, exactamente a razão por que não figura nos Anais da Aviação. De facto testava-se um Sistema de Navegação e não uma máquina que? falhou.
Como falha a inscrição que assim sublinha o lado supostamente negativo sem realçar, com todo o seu peso, o lado positivo de antecipação de 25 anos e que durante 50 anos foi único a nível mundial.
Em 1997 ainda havia a nível mundial muitas centenas de Navegadores que o utilizaram? mas lamentavelmente as comemorações, tentadas por três entidades, falharam graças à estreiteza de vistas dos políticos da época.
Escrevemos isto em memória do Cte Silva Soares, Membro da Academia de Marinha, Oficial da Armada, Piloto Naval e Cte da TAP onde exerceu os mais altos cargos.
Rui Ortigão Neves
Presidente da Direcção do GAMMA
Grupo de Amigos do Museu de Marinha
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