O Rio das Lavadeiras deixou – nos Heranças de Lavoura e Poesia .O rio era o Jamor , campesino serpenteando as viçosas hortas e os verdejantes pomares".
Era o rio das lavadeiras da freguesia de Carnaxide, no levantamento eclesiástico de 1865 ( P.e Francisco da Silva Figueira, " Os primeiros Trabalhos Literários" ) dá - nos conta da existência do total de 191 (?), assim sendo distribuídas: Carnaxide, 43; Linda-a-Pastora,44; Linda- a - Velha, 14; Outurela, 12; Portela, 2 ; Algés, 40 ; Praias, 10; Queijas, 16 ; e dispersas, 10.
Às segundas-feiras lá iam entregar a roupa lavada e buscar trouxas de roupa suja.
Aproveitavam e vendiam às clientes ovos e queijos frescos que também levavam, com essa intenção. No regresso traziam mais uns cobres que muito ajudavam a saciar as dificuldades caseiras.
Os ares eram lavados, a água cristalina, a várzea agricultada, à vista das antigas azenhas e moinhos de vento. Os peixes nadavam aos pés descalços destas lavadeiras, mergulhados na água !
O Jamor era navegável e tinha nos actuais terrenos do Estádio Nacional, perto da piscina, o ancoradouro dos barcos, destruído em finais do último século.
Era o Rio no qual muita gente ainda viva mergulhou e nadou nos seus pegos.
Depois, a avassaladora onda de expansão urbanística quebrou o sortilégio paisagístico, poluiu o rio, desfez equilíbrios naturais. E perdeu-se um dos mais cantados "recantos" do concelho de Oeiras. Ao lado deste rio nunca deixou de estar a povoação de Linda - a - Pastora, que ninguém terá descrito tão bem como Almeida Garrett no seu livro "Romanceiro" III ;
“ E lá, em perspectiva, no fundo deste quadro, em derredor, estava tudo de uma beleza que verdadeiramente fascinava. Uma aldeia Suiça com suas casinhas brancas, suas ruas em socalcos, seu presbitério ornado de um ramalhete de faias; grandes massas de basalto negro pelo meio de tudo isto, parreirais, jardinzitos quase pêncis, e uma graça, uma simplicidade alpina, um sabor de campo, um cheiro de montanha, como é difícil de encontrar tão perto de uma grande capital.
O lugarejo é bem conhecido de nome e fama, chama-se Linda - a – Pastora. Porquê ? Não sei.”
A lavadeira de Linda - a - Pastora, de nome Sr.ª Francisca, terá contado a Almeida Garrett, durante o verão que aqui passou e que foi por ele publicada no "Romanceiro, a versão mais bonito da lenda da pastorinha.
Três bonitas lendas regionais terão deixada à posteridade a bela imagem da foz do Jamor e, mais ainda, uma unidade mítica entre Linda – a – Pastora, Linda- a velha e Cruz Quebrada ( A Cruz que Brada). A não desfazer nunca.
A CMO acaba de assinar um protocolo com a Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa (UTL), criando a SRU, Sociedade de Reabilitação Urbana.
A SRU irá fazer um trabalho de investigação incidindo sobre a zona de Algés e Cruz - Quebrada com extensão, através do Rio Jamor, aos núcleos de Linda-a- Velha e Carnaxide.
Se nos lembrarmos da profunda ligação de Linda-a-Pastora ao Jamor e a toda esta várzea, é de estranhar o afastamento do seu núcleo histórico de tal estudo. Demais, sabendo-se que durante centenas de anos Linda - a - Pastora foi a segunda maior localidade, a primeira era Carnaxide, da enorme freguesia com este nome.
É de estranhar que a terra de Cesário Verde seja excluída !
De salientar aquilo que muita gente ignora: que entre 1924 e 1944, em Linda - a - Pastora, houve um fascinante foco cultural, artístico e literário, desenvolvido por alemães lá residentes, no qual se integraram o notável artista alemão Hein Semke, Marta Ziegler, Teresa Balté, Else Althausse precursora das artes gráficas modernas.
Que seja esquecido Silvério Martins, natural de Linda-a-Pastora e discípulo, em Mafra, do estatuário Alexandre Giusti, outros homens da cultura, como sejam o próprio irmão de Cesáreo Verde, de seu nome Jorge Verde, que também foi poeta, Almeida Garrett e Manuel Pinheiro Chagas, figura das mais ilustres do século XIX.
Não poderá ainda ficar esquecida a linda capela setecentista de S. João Baptista implantada em pleno centro histórico. Nem o Hotel Jamor com a sua sala de jantar panorâmica.
O seu núcleo devidamente recuperado pode e deve prestar um alto serviço a este polo de atracção cultural, religioso e turístico.
É preciso que o Jamor volte a ser navegável até ao Santuário da Rocha
Visite-se nos arredores da capital do México a Veneza mexicana, Xochimilco de seu nome, com canais navegáveis e uma festa constante aberta todo o ano ao turismo e ao mundo.
Xochimilco e a festa nos seus canais.